No outro dia, a barraca não estava mais lá.
Tão banal se tornou a cena que mesmo a frase soa antiga, repetida.
E a esquina parecia mais vazia.
Como de fato estava: cheia de nada.
Com a barraca ainda lá, para além da família que a utiliza, o que a preenchia?
O que nos preenche — o que não nos preenche.
Inerte brado retumbante de um dito povo heroico.
Desunido povo que não brada, em silêncio que retumba.
Onde estará e de quem será o heroísmo.
Para onde terá sido levada a barraca, onde terão pousado os que a ocupam.
Não aparecem na fotografia, estão para trás da imagem.
Instantâneo registro do que se tornou hoje a permanência de muitos, muitos.
Banais contraposições — fossem antes meramente estilísticas, não profundamente estabelecidas.
Em retumbante silêncio, também antigo, repetitivo.
No cartaz, um código bancário para o recebimento de transferências.
Pela quantidade de dígitos, um provável CPF.
Deveria-se divulgá-lo, quem sabe alguém à distância, via internet, queira ajudar?
Deslocada, mesmo desvirtuada questão ética disso que vivemos?
Da ética que hoje experimentamos. Ou que talvez não mais experimentamos.
Bem, não seria difícil digitalmente remover a parte digitalmente coberta.
Registro hoje banal, banal.
Será banal para quem é o objeto do registro, que para trás já ficou?
Tão banal que sequer é mais visto, se alguma vez o foi.
No outro dia, afinal, a barraca não estava mais lá.
Filhos deste solo, outra banalidade.
Para onde foi levada a barraca, onde pousam os que a ocupam.
Em qualquer calçada, em toda e qualquer graminha de cruzamento.
Onde está e de quem é o heroísmo.
Encontre-se ainda vazia uma graminha de cruzamento.
É toda uma nação impávida que as preenche.
Povo que outra vez não brada, em silêncio que mais e mais retumba.
Antigo, tudo tão repetido, repetitivo. Idolatrado colosso.
Alguma vez nem às margens restará placidez.
Algo de bastidor
Haja hino mais condizente com a própria nação, algo nunca de tal modo visto.
L.O.V. Leia Ouça Veja
No YouTube de Olavo de Carvalho, “Ói nóis aqui traveiz”.
No Metrópoles, “Para escapar da PF, Olavo de Carvalho fugiu de carro para o Paraguai”.
Na Folha, “Olavo de Carvalho não passou pela imigração para sair do Brasil e voou do Paraguai para os EUA”.
Playlist Condizente 47 21
Angra dos Reis — Legião Urbana
“Seja como for.”
Stairway to Heaven — Led Zeppelin
“If you listen very hard, the tune will come.”
Crime Vai e Vem — Racionais MC’s
“Dois aliado, o isqueiro e o cigarro.”
Happiness is a Warm Gun — U2, John Paul X, Joe Chicarelli
“And donated to the National Trust.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Tinha um regime militar no Chile e tinha um regime militar no Brasil. Entre aspas, duas ditaduras. Aí, um professor, em vez de trabalhar no Brasil, trabalha seis meses no Chile, volta para o Brasil, ele trabalhou para algum ditador? Não trabalhou para ninguém. Nunca vi o Pinochet na vida, não sei do que se trata. A minha politização é tardia. Eu diria que eu estou sendo politizado agora. Quando eu estou vendo tudo que está acontecendo no Brasil, eu estou agora tendo um curso de politização.”
Paulo Guedes, em audiência na Câmara dos Deputados sobre a offshore familiar (a convocação para o Plenário quem sabe parece que talvez não seja mais necessária)
Last but not least
O chato do Português
“A cultura, a consciência, é o principal. A política é apenas as partes baixas da vida social. No Brasil, mais baixas ainda. No Brasil, a política é uma atividade francamente imoral e criminosa, que às vezes é melhor nem comentar.”
Olavo de Carvalho, ao anunciar seu “retorno à atividade”