É de se estranhar quando um dos principais temas da semana é um bate-boca entre Dilma e Ciro sobre a conivência ou não de Lula com a estratégia do impeachment.
A calmaria é algo estranho ao Brasil.
Serão as bençãos de Nossa Senhora Aparecida, diria um fiel, ainda a celebrar o dia de nossa padroeira.
Ainda que ao país atenda, seria demasiado pedir a ela que por isso também intercedesse.
O agito nas águas brasileiras não é das profundezas que emerge; vem é daqueles que na superfície as navegam.
Como que por oposição à nossa constância na fé, é nossa também esta perene devoção à inconstância.
Mais e sempre fiéis, muitos de nós, à nossa crença ideológica do que a um verdadeiro bem comum.
Essa sim talvez uma de nossas profundezas.
Exagero?
Por dispensável que seja, pelos personagens, pelos temas, pela época, veja-se o debate entre Ciro e Dilma, veja-se os comentários a respeito.
A respeito desse ou de qualquer outro debate.
Sim, os comentários — as caixas de comentários.
Mais de uma pessoa deve já ter dito que o debate brasileiro se transformou em uma caixa de comentários da internet.
A solução, para muitos, na esteira dos eventos envolvendo o Facebook, está na regulação dos algoritmos.
Para outros tantos, com bem se tem visto, na exclusão de conteúdo que escape de determinado padrão.
Não que as big techs prescindam de legislação específica, longe disso.
Mas outra vez uma ação externa, protejam-nos.
Vinda do fundo das águas, do alto dos céus, é bem-vinda e necessária a proteção.
Abençoar que não enxergamos, mas que sentimos e em que confiamos.
Não deverá nos proteger e eximir, contudo, e é bom que assim o seja, de nosso próprio agir — nosso, exclusivamente nosso.
Algo de bastidor
A partir do que chama de “molecagem como método de pensamento”, Pondé faz interessante ponderação sobre “o ethos autoritário dos comentários sendo protagonista do pensamento”. Ou seja, a lógica dos comentários, caso se possa referi-la assim, alcança já bem mais que as caixas de comentários. “No fundo da molecagem como método há um déficit de discernimento travestido de crítica. Sem a leveza da ironia, essa retórica inviabiliza o entendimento da realidade.”
L.O.V. Leia Ouça Veja
O incrível é que Madonna, apesar do rosto mudado e da surpresa forçada do apresentador, ainda causa algum impacto — menos pelo que faz, mais pelo que diz.
Já nossa primeira-dama, enquanto nada diz sobre o que deveria comentar, canta.
Galvão, por sua vez, fez comentário que não deveria, pelo menos ali, fazer. Ou deveria?
E foi John, não Paul, o primeiro a comentar sobre o fim dos Beatles. Que impactante. Para o mês que vem, a propósito, comenta-se sobre lançamento de documentário que promete impactar — e gerar muitos comentários.
Playlist Condizente
Quanto Vale o Show — Racionais MC’s
“Tudo era novo em um tempo brutal”
Idas e Voltas — Matogrosso & Matias
“Veio nos trilhos do tempo o trem do destino”
Pescador de Ilusões — O Rappa
“A isca e o anzol, a isca e o anzol”
Get Together — Madonna
“There's too much confusion / It's all an illusion”
Get Back — The Beatles
“Get back to where you once belonged”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Você topa fazer um exame de DNA, Lula?”
Mano Brown, em entrevista com Luiz Inácio Lula da Silva, abordando a ancestralidade do entrevistado
Last but Not Least
O chato do Português
“O Celso Amorim ficava às vezes irritado comigo. Eu ia conversar com o presidente norte-americano, eu tava passando a mão na perna dele, tava passando a mão na cabeça dele. O Hu Jintao, com aquele cabelo todo cheio de brilhantina, eu passava a mão na cabeça dele, sabe? Porque é o jeito que eu aprendi a fazer política. Eu gosto das pessoas, eu gosto do ser humano.”
Luiz Inácio Lula da Silva, em entrevista a Mano Brown