Alcançam a idade de um adulto canções que, lá atrás, primeiro versavam sobre o fenômeno da chegada da internet — ou da world wide web, como diria o acadêmico tecnólogo.
Espera: idade adulta? Vinte e poucos anos, as canções. Entrada nos trinta, a web. Pertinho dos quarenta, a internet. E vai ficando em passado cada vez mais distante o mundo em que antes dos dezoito as pessoas já pensavam, afinal, em chegar à idade adulta.
Haverá relação? Difícil agora saber. Entretenimento o tempo todo, para todas as idades, em todo lugar? Talvez. Menos dinheiro, mais comida e infindáveis supérfluos? Quem sabe. Ah, mas e a miséria pelas ruas? Pois é.
Fica tudo às vezes parecendo meio irreal — e em tempo real.
Da expectativa pelos inúmeros benefícios, e muitos se fizeram efetivamente existentes, transmutamo-nos para a realidade deste contínuo bafafá sobre os possíveis malefícios da rede. E isso em menos de meia dúzia de décadas (a primordial Arpanet é de 1969).
Espera: malefícios da rede, não. Do uso que dela fazem — que dela fazemos.
Mesma meia dúzia de décadas em que, no Brasil, algumas palavras passaram a não poder ser ditas, para depois voltarem a poder ser ditas, enquanto outras agora passam também a não poder ser ditas. Não só palavras, ideias.
Haverá relação? Difícil saber. Por fácil e conveniente que seja o paralelo, os presentes banimentos das plataformas digitais não são equivalentes às passadas proibições da ditadura militar.
A começar pelo fato de serem definidos por instituições privadas — não públicas ou de estado. E de alcance um pouco maior, digamos assim. Tanto os banimentos quanto as instituições que os perfazem.
Ah, mas o algoritmo alimenta discursos de ódio, permite disparos em massa. Do parco letramento e da entorpecente passividade, ignorada uma e enaltecido o outro, nada se fala. Somos rebanho apenas quando em busca de imunidade.
E não espantará boiada alguma o estrondo que será a nova etapa da tecnologia que viabiliza boa parte disso tudo — avanço que vem chegando em silêncio, em maneira talvez condizente com a própria tecnologia, invisível que parece às vezes ser.
Que venha o 5G, e para todos nós, nação que ainda somos. Deverá, certamente, permitir que acompanhemos em tempo ainda mais real o irreal parque de diversões em que, ao que parece, passamos todos a acreditar e viver.
Algo de bastidor
O bastidor brasileiro é público. A escolha do mandatário não é apartada daquilo que somos e de como convivemos. Não é preciso dar volta em lado algum para ver. É esse nosso disfarçado selvagem contemporâneo.
L.O.V. Leia Ouça Veja
“World wide web vs internet - what's the difference?”
“A Brief History of the Internet”.
Playlist Condizente 01 22
Kite — U2
“In the time when new media was the big idea.”
Pela Internet — Gilberto Gil
“Uma jangada e um barco que veleje.”
Pela Internet 2 — Gilberto Gil
“É tanto aplicativo que eu não sei mais não.”
Partido Alto — Ney Matogrosso
“Como é que vai ficar.”
Walk on the Wild Side — Lou Reed
“Take a walk on the wild side.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Cavalo esperto não espanta boiada.”
Rolando Boldrin, Vide, Vida Marvada; 1981, por aí
Last but not least
O chato do Português
“O ano termina e nasce outra vez.”
Simone, Então é Natal; aparentemente eternamente, em puro Zeitgeist, por aí