Enquanto a fúria covarde, a raiva incontida e a intolerância orgulhosa estiverem restritas ao mundo virtual, pretérita rede social ou metaverso futuro, estaremos bem.
Se nada desprezíveis os efeitos de tais não imediatas ações, são ainda dependentes da intermediação de uma miríade de equipamentos, plataformas e infraestruturas.
Sim, o computador ou o telefone inteligente, Twitter ou TikTok ou similar qualquer, satélites e antenas e cabos, sem esquecer dos postes, nossos conhecidos.
Tão presente vastidão tecnológica — que sequer é mais percebida.
Algo, entretanto, parece transbordar para a realidade concreta; realidade independente de qualquer meio para que se faça notar; realidade composta, redundância, também por nosso pensamento conjunto — por nossas ações conjuntas.
Mundo que construímos, afinal, constituinte da única realidade que existe.
Comunidade rompida ao meio, o meio de uma disputa muito mais que eleitoral; pelo meio de um país rachado, alguma coisa parece se evidenciar, e pode não ser tudo ainda.
No meio da rua, em meio à família, ao meio quebrando instituições, a fúria covarde, a raiva incontida e a intolerância orgulhosa são imediatas no estrago que provocam.
Do particular de uma totalitarista liberdade interneteira para o geral de uma totalitarista liberdade não interneteira, o caos com que flertamos, se tudo inundar, terminará de “cancelar” o que resta da internet e do homem livre.
Novo meio de vida para alguns, e não são poucos.
De modos talvez distintos, intenção que também transborda, de um lado a outro; passando por despedaçado meio que, parte atordoado, parte beneficiado, encontra na fé o refúgio e a garantia de não afundar — em devoção aos céus ou por graça terrena.
Apesar de estruturas nada sólidas e pouco conjuntas, fruto de uma origem e de um passado refratários ao pleno coletivo, outra redundância, não fora ainda perdida nossa eterna e brasileira esperança no amanhã, mesmo que sempre amanhã.
Contudo, tanto fizeram, tanto fizemos, ou não, que parece de vez cancelado o sonho do país do futuro. Tudo talvez resultado de uma mesma ação, ou inação, tudo talvez o mesmo transbordar. Ao meio abrimos um país, em conjunto.
Mundo que desconstruímos, porém, constituinte da única realidade que resiste.
É esse nosso real presente, redundantemente conjunto. Quiçá mais próximo de nosso passado, bem mais próximo; de nossa essência, ainda desconhecida. Mesmo os seres que de nossas profundezas emergem não foram suficientes para que se a reconheça.
De geração a geração, míticas figuras que a fazem — disfarçada parcela da essência nossa — ressoar alto quando vêm à tona. Sim, parte de nossa conjunta natureza.
Com tudo aberto, o que dela veremos, se algo faremos.
Ou talvez seja mesmo âmago nosso esse contínuo propagar de uma moral que não praticamos. Se assim efetivamente o for, recostemo-nos: não haverá transbordar definitivo algum.
Algo de bastidor
É pela boa índole da imensa maioria que o caldo não entorna de vez. De mitos e moluscos… Isso daria um livro. Uma coleção. Uma série para reverter a queda da Netflix? Uma trilogia de longas-metragens, em desenho animado, para o cinema. Um curso via EaD, certificado pelo MEC, com carimbo dourado e tudo (não, melhor não). E o mundão? Longe de ser exclusividade nossa a desconexão da realidade, estão aí as consequências globais a transbordar, mais difíceis de conter.
L.O.V. Leia Ouça Veja
[Domingo] “Alemanha vai aumentar uso de carvão após queda de fornecimento do gás russo. Retorno das usinas a carvão representa um retrocesso para a meta do país de reduzir as emissões de gases de efeito estufa. O aumento dos preços da energia está alimentando a inflação … em toda a Europa” (Valor).
[Segunda] “Protesto de 70.000 pessoas paralisa Bruxelas contra alta no custo de vida. Greves no aeroporto e nas redes de transporte em todo o país paralisaram quase todos os deslocamentos” (Veja).
[Terça] “Maior greve ferroviária em 30 anos paralisa a Grã-Bretanha. Sindicatos pedem aumentos para responder à inflação” (Público).
[Quarta] “À la Bolsonaro, Biden apela ao Congresso para reduzir preço da gasolina; a proposta é de eliminar tributo federal por 90 dias” (Veja).
[Quinta] “Governo acerta com Congresso Auxílio a R$ 600 e bolsa-caminhoneiro de R$ 1 mil. A 100 dias da eleição, Bolsonaro deve optar por ampliar benefícios em vez de compensar perda de arrecadação dos estados que zerarem ICMS do diesel; custo total do pacote é de R$ 30 bilhões” (Estadão).
[Sexta] “Bolsonaro me ligou e acha que vão fazer busca, disse Milton Ribeiro antes de ser alvo da PF; Ministério Público viu possível interferência do presidente e pediu para caso ir ao STF” (Folha).
Playlist Condizente — The Caldo de Feijão Mix — 2225
Na Pressão — Lenine, Rodolfo, Digão
“Olho na pressão, tá fervendo.”
Bullet the Blue Sky — Sepultura
“Into the arms of America.”
Guiné-Bissau, Moçambique e Angola — Tim Maia
“Numa boa.”
Pra Melhorar — Marisa Monte, Seu Jorge, Flor
“Todos fazem seu sacrifício.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Se a sua babá te convidou para ser madrinha de casamento, nada de ir simplesinha, com medo de chocar. Vá superelegante, foi para isso que ela te chamou. E não se esqueça de mandar de presente o mais caro dos eletrodomésticos. Foi para isso também que ela te convidou.”
Danuza Leão, em seleção de frases publicada pelo Estadão; final de junho
Last but not least
O chato do Português
“É ótimo passar em frente a uma obra e receber um elogio. Sou desse tempo. Acho que toda mulher deveria ser assediada pelo menos três vezes por semana para ser feliz.”
Danuza Leão, em seleção de frases publicada pelo Estadão; final de junho