Pendurado nos postes. A efetiva chegada do 5G ao Brasil pode ser atrasada pelos postes de rua. Por alguma possível falta de acordo acerca do manejo dos postes da rua.
Destacados nos devidos meios ou não, certo debate e mesmo uma consulta pública recentemente houve a respeito. Ao que parece, ainda sem consenso.
Se alguma inovação há no objeto desse novo retrato da essência nacional, mais surpreende que gere algum sobressalto, que ascenda ao braseiro do pensamento.
Enquanto não gera, coletivamente, espanto algum. Como atributo de um povo, é quase alentador: superamo-nos dia a dia no exemplificar de quem somos.
Nada da soberba de falar daqui como se parte daqui não se fosse, vulgar e depreciativo enaltecimento da natureza de recorrentemente depauperado país (mais em conceito que em possibilidade), âmago que desde os primórdios incandesce.
O que mais ainda surpreende é nossa encarvoada incapacidade de vermos como somos, em tantos quês ardentes como brasa, nossa quase toda gente a aplicar aqui parâmetros alheios a nossa formação e a nossos anseios.
Deveria-se abandonar qualquer expectativa de avanço, então? Melhor seria partir, em nossas ações, da realidade daquilo que compomos — e nos compõe como nação.
Alguém imaginaria o 5G acessível dentro do cronograma estimado? Seria nível desconhecido de surpresa, não importa qual seja ou fosse o cronograma.
Abundante pau-brasil de hoje, pendura-se, ainda que não apenas, nos postes o atraso.
Como teria alguém dito certa vez, “puro Brasil”.
Realidade por realidade, enquanto a possibilidade de absoluta conexão virtual se aproxima globalmente, o mundo parece que opta por dar dois passos atrás e reverter atuais plenas conexões, e que se mostravam enraizadas e estendidas.
Oxalá tais reversões redundem — duas ou três gerações à frente, como sói acontecer — em passo adiante. Com outra geopolítica e outra world wide web, talvez ainda sem fios subterrâneos nessa terra do pau-brasil, isso se de postes ainda dependermos.
Algo de bastidor
A propósito de novas gerações, poderia-se dizer que há uma lógica de século XX a permear tudo que ora se passa, quiçá ressurgindo. Porém, a falta de lastro na realidade dos fatos, que hoje tanto se manifesta, parece ser notável aspecto deste século XXI.
L.O.V. Leia Ouça Veja
“Falta de regras para teles e setor de energia pode atrasar o 5G” (Valor).
“Audiência pública debateu compartilhamento de postes” (Anatel).
“Como a revisão da regulação de Anatel e Aneel poderá influenciar o 5G” (Luísa Saraiva de Araújo, JOTA).
“Arrumar a bagunça nos postes custa R$ 20 bi” (Ivone Santana, Valor).
“Em 2020, a Rússia era o maior exportador mundial de trigo. A Ucrânia era o quinto. Mas o trigo não é a parte catastrófica. São os fertilizantes. … A conseqüência será uma queda significativa no rendimento das colheitas e um aumento massivo no preço dos alimentos” (Eurointelligence, “After pestilence and war comes famine”, 25/04/2022).
“Algo deu terrivelmente errado, de forma muito repentina. Estamos desorientados, incapazes de falar a mesma língua ou de reconhecer a mesma verdade. … Até 2009, o Facebook dava aos usuários uma simples timeline — um fluxo sem fim de conteúdo gerado por amigos e conexões, com os posts mais recentes no topo e os mais antigos embaixo. Isso era frequentemente excessivo em volume, mas um reflexo fidedigno do que os outros estavam publicando. Isso começou a mudar em 2009, quando o Facebook ofereceu uma maneira de ‘curtir’ publicamente as mensagens. Nesse mesmo ano, o Twitter introduziu algo ainda mais poderoso: o ‘Retweet’, que permitia aos usuários endossar um post enquanto também o compartilhavam. … Em 2013, as mídias sociais haviam se transformado em uma outra coisa, com uma dinâmica diferente daquela de 2008. ... As recém ajustadas plataformas estavam quase perfeitamente projetadas para trazer à tona nossos lados mais moralistas e menos reflexivos” (Jonathan Haidt, The Atlantic).
Playlist Condizente — The Gato Net Mix — 2217
Anjos Tronchos — Caetano Veloso
“Munidos de controles totais.”
Será — Legião Urbana
“Monstros da nossa própria criação.”
Tempos Modernos — Marisa Monte
“Hipocrisia que insiste em nos rodear.”
As Tears Go By — The Rolling Stones
“I sit and watch.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Como dizia o poeta, a humanidade nunca suportou demasiada realidade. A cultura de cancelamento é típica de uma sociedade que já tem pouco com o que se preocupar. … Isso representa um fechamento intelectual de tal ordem que não sei como vai ser possível você desenvolver debates, encontrar novas verdades, quando você fecha o debate dessa forma.”
João Pereira Coutinho, no Roda Viva; meados de abril, por aí
Last but not least
O chato do Português
“Somos mulatos, híbridos e mamelucos. E muito mais cafuzos do que tudo o mais. O português é um negro dentre as eurolínguas. Superaremos cãimbras, furúnculos, ínguas...”
Caetano Veloso, Meu Coco; final de outubro, por aí