Devem ser interessantes, os dias de Alexandre. A cada manhã, com a caneta que empunha, decidir sobre o que hoje decidir. Caneta de dupla potência, rubrica no Tribunal Superior Eleitoral e no Supremo Tribunal Federal.
Ou serão duas canetas, uma mais nova para o TSE e outra um pouco mais antiga para o STF? Uma ou duas, não importa que confunda, importante mesmo é a assinatura, a mesma em ambas jurisdições.
Importa que confunda. Surge no TSE dita demanda de uma eleição que acabou, mas que concerne ao inquérito que nunca termina no STF? A caneta de um remete para o outro, Alexandre a empunhá-la lá e cá.
Ou talvez seja o contrário, ou nada disso. O que importa é não haver a Alexandre contrariedade, cansado ou impaciente que parece estar com perguntas cuja resposta é por todos — todos — regiamente conhecida.
O cidadão desavisado e insistente quer perguntar mesmo assim? Benfazejo, Alexandre o acolhe sob o protetivo manto da proibição de falar o que não deve, prevenindo a propagação de tais e indevidas questões.
Não é bem assim. A única coisa contida, em nome da liberdade de informação, é o acesso do imprudente vivente aos meios de que dispunha para compartilhar, publicamente, dúvidas com concidadãos daqui e d’álem-mar.
Como terão recebido as canetas de Alexandre o informativo aceite, por pares da Suprema Corte dos Estados Unidos, do caso acerca da responsabilização das plataformas em relação ao que nelas ganha algorítmico destaque.
(Em painel realizado nos EUA sobre o respeito à liberdade e à democracia, o ministro Alexandre de Moraes defendeu a necessidade de regulamentação das redes sociais — sem entretanto especificar como essa se daria.)
(Em posterior momento do debate, o ministro defendeu que as plataformas passem a ser classificadas como empresas de mídia, adquirindo assim responsabilidade equivalente à da mídia tradicional.)
A propósito, brasileiros de Nova York demonstraram como não respeita limites a desordem informacional: aproveitaram a passagem de Alexandre pela cidade para manifestar o patriótico apreço que lhe dirigem.
Pessoas por alguma razão talvez esquecidas de que liberdade de expressão não é, afinal, liberdade de agressão. Justiça se faça, não foi Alexandre o único agraciado com calorosas interjeições na fria noite nova-iorquina.
Resultado da habitual e brasileira confusão entre pessoalidade e institucionalidade? Justiça se faça, quem entre nós deixa de tomar como seu e particular o que exclusivamente público e de todos deveria ser.
Seria exemplo a satisfação de Alexandre diante daquilo que não deveria despertar sentimento algum? Mesmo que político, algo semelhante a um relatório enviado de uma instituição a outra. Ah, as urnas. Ainda elas.
Tantas emoções despertam, que chegamos ao ponto de uma de nossas instituições julgar necessário divulgar uma nota, posterior ao dito relatório, para ressaltar que a afirmação de uma coisa não é a negação de outra.
Nota em muito endereçada a uma outra instituição, a mesma que pareceu não se intrigar com o seguinte trecho do institucional relato, disponibilizado pelo TSE, do convite de Alexandre para visita à sala de totalização dos votos:
“O setor é composto por uma equipe de 20 servidores … . A equipe não faz a totalização, que é realizada por um computador, que fica no Centro de Processamentos de Dados, sem qualquer interferência humana.”
Melhor não mencionar, nem em tom de pilhéria, o que mal-intencionados chamaram de sala secreta. Melhor citar novamente o trecho de outro relato, publicado por renomada integrante de nossas jornalísticas instituições:
“A totalização é feita sem a interferência dos funcionários, por um computador que fica em outro local, no centro de processamento de dados da corte.” Em outro local, Alexandre? Melhor não perguntar.
“Esta sala fica restrita a poucos servidores que fazem a manutenção do equipamento.” Fato que de modo algum embasaria, por si só, qualquer questionamento ao resultado das eleições. Certo, Alexandre?
Afinal, a afirmação de uma coisa não é a negação de outra. Pois conforme informou o próprio Alexandre durante a referida visita, “Essa sala, é importante que se coloque, ela não conta votos.”
Agora, houve ainda uma outra nota, desta vez assinada por três instituições em conjunto, Marinha, Exército e Aeronáutica, e que juntas representam a instituição nacional chamada de Forças Armadas.
Sem qualquer imodesta intenção de mais desordenar os informacionais dias de Alexandre que vivemos, e sem quaisquer perguntas a ceifar a alexandrina liberdade de fazê-las, destaca-se da manifestação das Forças:
“São condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos.”
Qual será o efeito nas lustrosas canetas de Alexandre, se algum, de uma tal nota de armadas forças a se manifestar assim. Final de cada tarde, início de toda noite, como terminarão nossos republicanos dias de Alexandre.
Algo de bastidor
Chega. Alexandre não está sozinho, e haverá outros dias.
D.N.A. Destaques Não Aleatórios
“Ai de ti, Internet! Já se tragou a liberdade e ainda não vês o sinal” (Demi Getschko, Estadão).
“A comunicação tecnológica, que deveria ser uma extensão, uma evolução da inteligência humana, tornou-se, cada vez mais, propagadora da parcialidade e do ódio coletivo” (Tostão, Folha).
“Como torcer pelo Brasil de Neymar, apesar de Neymar?” (Sandro Macedo, Folha).
“As famílias de baixa e média renda, que recebem até 10 salários mínimos, estão mais endividadas (80,2%). Nessa faixa de renda, também está o maior percentual de famílias com dívidas em atraso: são 33,6%” (Poder360).
“Decisão do STF pode resolver Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023. Norma que manda governo pagar 1 salário mínimo para cada brasileiro poderia ser usada para manter benefício com crédito extraordinário” (Poder360).
“Ministros do STF devem ser exemplares. Há algo de muito equivocado quando mais da metade da Corte constitucional vai a um evento privado expor suas opiniões sobre o Brasil” (Estadão).
“Lula terá de cumprir 1 promessa eleitoral a cada 14 dias de mandato” (Folha).
“Nunca um presidente brasileiro assumiu com uma parte da população pedindo, às claras, um golpe. Golpista deixou de ser um insulto” (Elio Gaspari, Folha).
“‘Há uma grande organização criminosa por trás’, diz procurador-geral de São Paulo sobre atos golpistas. Segundo Mario Luiz Sarrubbo, a investigação já chegou a nomes de financiadores” (CartaCapital).
“Os inquéritos relacionados aos ataques contra as instituições democráticas cumpriram seu papel. Cabe ao STF encerrá-los sem demora, dando a cada um deles o devido encaminhamento” (Estadão).
“O TSE recebeu com satisfação o relatório final do Ministério da Defesa, que, assim como todas as demais entidades fiscalizadoras, não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral de 2022” (Alexandre de Moraes, Presidente do TSE).
“O relatório de 63 páginas diz não ser possível afirmar que o sistema eletrônico de votação está isento da influência de um ‘eventual’ código malicioso que possa alterar o seu funcionamento. Mas não mostra caso concreto” (Poder360).
“Um relatório com ginga” (Leandro Loyola, O Bastidor).
“Na prática, portanto, eles nem colocam o sistema em xeque tampouco atestam a integridade” (Folha).
“O Ministério da Defesa foi ambíguo como eu tinha dito que seria. E foi pusilânime. … Dia estranho, o de ontem. O alívio da normalidade, a tristeza da perda imensa. E os militares com resmungos crípticos, mas quem liga para eles? Não é mesmo, honey baby?” (Míriam Leitão, O Globo).
“O fim de um ciclo de militares na política” (Elio Gaspari, Folha).
“O acatamento a resultados de eleições caminha lado a lado com o respeito ao povo em suas legítimas manifestações” (Hamilton Mourão, Estadão).
“O comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou nesta quinta-feira (10) aos generais da Força que as manifestações antidemocráticas em frente aos quartéis não devem ser reprimidas pelos batalhões” (Folha).
“Forças Armadas condenam excesso em manifestações e ‘restrições de direitos’ em nota oficial. Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica declaram ‘compromisso irrestrito e inabalável’ com ‘a democracia e com a harmonia política e social’” (Estadão).
“‘Não é papel de comandante militar opinar sobre política’, diz presidente do PT” (Estadão).
“Bolsonaro tem dito a aliados que recebeu um recado do núcleo duro do PT, por meio de membros do Judiciário. O presidente conta que teria sido informado que ele e seus filhos não serão ‘perseguidos’ … . Bolsonaro sinaliza que, caso se sinta perseguido, especialmente em ações judiciais direcionadas a ele ou a seus filhos, estimulará seus apoiadores a irem para as ruas e causar tumulto para o governo Lula” (Bela Megale, O Globo).
“O ministro Alexandre de Moraes, do STF, estendeu para todo o País, a ordem para que a Polícia Federal, a Polícia Rodoviária Federal e as Polícias Militares dos Estados desobstruam vias em todo País bloqueadas por bolsonaristas inconformados com o resultado das urnas” (Estadão).
“O novo já começou. A cobertura da imprensa mostra a volta ao normal, em que temas que interessam ao país substituem as notícias sobre a última declaração indigesta do governante” (Sérgio Abranches, Headline).
“Lula busca acordo e abandona ação contra emendas de relator” (Poder360).
“Antes de viajar, Lula distribuiu missões a interlocutores para que sondem a ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal, sobre a possibilidade de atrasar o julgamento sobre o orçamento secreto” (O Bastidor).
“Meirelles deseja sorte a investidores e diz que Lula ‘dilmou’” (O Antagonista).
“Dólar dispara e bolsa derrete após fala de Lula sobre gastos” (Valor).
“‘Nunca vi mercado tão sensível como o nosso’”, diz Lula” (Poder360).
“Mercado pode ter se enganado em relação a Lula, diz Citi. Banco norte-americano reduziu exposição a risco no Brasil” (Poder360).
“Não caminhamos na direção de um localismo benigno, mas de uma rivalidade de soma negativa” (Martin Wolf, Valor).
“Por que Dostoiévski é odiado por alguns de seus conterrâneos?” (Russia Beyond).
Do (retuíte keine endorsement, mas pode ser)
“Como assim tu viu um pôr do sol mais bonito do que o Guaíba? Heresia! Parecia que eu devia algo às pessoas, que era injusta, mas não sabia nem com o quê. A estadia em solo gaúcho nunca durava muito e a vontade de correr para São Paulo batia muito rápido. Quando eu voltava para SP, ‘lá vem a gaúcha com o sotaque carregado de novo, que bonitinha. Tomou muito chimarrão?’" — Vanessa Guedes,
Playlist Condizente 2245 — The Outros Dias Mix
Pescaria (Canoeiro) — Gal Costa
“Cerca o peixe.”
Até Quem Sabe — Gal Costa
“Sem fantasia.”
Sublime — Gal Costa
“Não que eu me iluda.”
Segunda — Gal Costa
“Quem não vai.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Se uma pessoa congelada em 1968 acordasse no Brasil de hoje, depararia com as Forças Armadas defendendo a liberdade de expressão e jornalistas defendendo a censura.”
Mario Sabino, jornalista; meados de novembro, por aí
O Artilheiro Musical
Não pede música, faz
“Essa pessoa aí mandou você me bloquear.”
Guilherme & Benuto feat. Xand Avião; Assunto Delicado
Last but not least
O chato do Português
“Ganhei o apelido, um pouco carinhoso, um tanto debochado, de pelicano, meio petista, meio tucano.”
Paulo Delgado, sociólogo; início de novembro, por aí