De parte a parte, o pessoal parece insistir em dar razão a Olavo de Carvalho. De um lado, detratores. Do outro, discípulos. Às vezes, para ficar em alegoria da época, a precisão é tanta que dá impressão de ser coisa de algoritmo.
Observação feita contrariando uma das assertivas do “velho”, como chegados o referem, perdida em algum de seus vídeos, casualmente assistido: a de que o camarada precisaria estudar pelo menos uns dez anos antes de dar opinião.
Fala-se aqui portanto desse Olavo de YouTube, de rede social, de apreensão instantânea como os gritos de animador de rodeio de Bolsonaro — ainda que muitos não os compreendam.
Bastaria um exemplo. Envolve, é claro. o grande embate de nossa democrática contemporaneidade. A confiabilidade do processo eleitoral, a segurança das urnas eletrônicas, a existência ou não da “sala secreta”.
Diz um título na seção de notícias do site do Tribunal Superior Eleitoral: “Presidente do TSE convida candidatos à presidência para conhecer a sala de totalização”. Sala de totalização, certo? Não muito abaixo, elucida o texto:
“O setor é composto por uma equipe de 20 servidores que trabalham em conjunto com outros setores do TSE e dos Tribunais Regionais Eleitorais. A equipe não faz a totalização, que é realizada por um computador, que fica no Centro de Processamentos de Dados, sem qualquer interferência humana.”
De intrigante compreensão, o trecho acima recebeu destaque em edição anterior do Trombohne Destilado. Esqueça-se por um instante a cantilena bolsonarista, esqueça-se a suntuosidade alexandrina.
No Brasil de hoje, é recomendado algum volteio antes de perguntas assim, mas vamos lá. Ao ler o excerto, não fica parecendo, no fim das contas, que a totalização dos votos é mesmo feita em outro lugar?
Dias depois, atendido o convite do presidente do TSE, diz o título de matéria da Folha de S.Paulo: “Presidente do partido de Bolsonaro visita TSE e diz que não há sala secreta”. Um pouco mais abaixo, elucida o texto:
“A totalização é feita sem a interferência dos funcionários, por um computador que fica em outro local, no centro de processamento de dados da corte. Esta sala fica restrita a poucos servidores que fazem a manutenção do equipamento.”
Um momento. Como é? Matéria sobre visita à sala de totalização diz que a totalização é feita em outro local, não na visitada sala de totalização. É isso?
E que poucos servidores têm acesso a essa outra sala, não chamada de sala de totalização, mas sala onde acontece a totalização? Agora complicou.
Um lado diz que há sala secreta. Outro lado diz que não há sala secreta. E ambos os lados parecem dizer que a totalização dos votos não é feita na sala chamada de sala de totalização.
Com semelhança fac-similar, esse exemplo se encontra em outros veículos. Não obstante, a Folha de S.Paulo mantém sua aura de nosso NY Times. Secreta ou não, existe então uma outra sala? A pergunta permanece.
O site do TSE deve esclarecer. Pois se visita houve, haverá relato oficial — sempre mais confiável. Na seção de notícias, diz título subsequente: “Sala de acompanhamento da totalização recebe visita de autoridades”.
Nada de falsa polêmica. Algo parece ter mudado entre antes e depois da visita. Pelo menos, nos títulos da seção de notícias do site do TSE.
Pois a sala de totalização, em menos de uma semana, deixou de ser chamada de sala de totalização e passou a ser chamada de sala de acompanhamento da totalização. Ah, essas filigranas…
Mesmo após a escuta de matreiros relatos, não de todo furtivos, acerca do processo de apuração no domingo da reeleição de Dilma Rousseff, cabe dizer que não se desconfia aqui, por princípio, das urnas eletrônicas.
A questão tampouco é dar alguma razão a Bolsonaro nos questionamentos ao processo eleitoral (aparentemente, agora ladeado pelo PL). A questão igualmente não é, de saída, não dar razão alguma a Bolsonaro.
A questão não seria sequer jornalística. Seria de lógica, mera interpretação de texto. Não há sala secreta. A sala de totalização não totaliza. A sala em que é feita a totalização, que não é a sala de totalização, é uma sala restrita.
Recentemente, escreveu o ombusdman da própria Folha de S.Paulo: “Quando todos vão para um lado, quem vai para outro ou está muito certo ou muito errado. A segunda hipótese, por óbvio, é a mais provável.”
É possível que seja o caso, inclusive no que tange a considerar a ação de discípulos e detratores — ainda que por contraposição — em muito definida por aquilo que Olavo de Carvalho apregoava internet afora.
Guerra cultural, combater a guerra cultural. Aparelhamento de instituições, combater o aparelhamento de instituições. Bolsonaro não é um homem honesto, Bolsonaro é um homem honesto. Terá concebido a volta de Lula?
Sim, há brilhantes discípulos e brilhantes detratores; não são os ora referidos. Pilhéria ou não, Olavo dizia não esperar em vida a influência alcançada. Sinal dos tempos, a imprecisão é tanta que dá impressão de ser coisa de algoritmo.
Qual lado terá esticado a corda primeiro, qual lado terá sido ação e qual terá sido reação. De parte a parte, tanta razão parecem dar a Olavo de Carvalho… que parecem agir sem razão. Por que lhe dão? Haja eleição.
Algo de bastidor
Dizem que começa em seguida. Fica o registro.
L.O.V. Leia Ouça Veja
“Conclusões do PL sobre urnas são mentirosas, diz TSE. Idealizadores de relatório que questionam segurança das eleições serão investigados no inquérito das fake news” (Poder360).
“As conclusões do documento intitulado ‘Resultados da auditoria de conformidade do PL no TSE’ são falsas e mentirosas, sem nenhum amparo na realidade, reunindo informações fraudulentas e atentatórias ao Estado Democrático de Direito e ao Poder Judiciário, em especial à Justiça Eleitoral, em clara tentativa de embaraçar e tumultuar o curso natural do processo eleitoral. … O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, determinou a imediata remessa do documento ao Inquérito nº 4.781/DF, para apuração de responsabilidade criminal de seus idealizadores — uma vez que é apócrifo —, bem como seu envio à Corregedoria-Geral Eleitoral para instauração de procedimento administrativo e apuração de responsabilidade do Partido Liberal e seus dirigentes, em eventual desvio de finalidade na utilização de recursos do Fundo Partidário” (TSE).
“O Partido Liberal, sigla do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro, enviou ao TSE relatório em 19 de setembro com questionamentos que colocam em xeque a segurança do processo eleitoral. No documento de duas páginas, a equipe técnica contratada pelo partido afirma que ‘somente um grupo restrito de servidores e colaboradores do TSE controla todo o código-fonte’ das urnas eletrônicas. ‘O quadro de atraso encontrado no TSE, referente à implantação de medidas de segurança da informação mínimas necessárias, gera vulnerabilidades relevantes’, declara a legenda no relatório que recebeu o título de ‘Resultados da Auditoria de Conformidade do PL no TSE’. Eis a íntegra” (Poder360).
“O ministro do TSE Benedito Gonçalves rechaçou a tentativa do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, de se dissociar do polêmico relatório — contratado pela legenda — que contesta a segurança do sistema eleitoral. A divulgação do documento gerou uma crise dentro do PL, já que é dado como certo que o relatório será usado politicamente pelo presidente Jair Bolsonaro em caso de uma eventual derrota nas urnas” (O Globo).
“PL diz que não usou dinheiro público em relatório sobre urnas. Valdemar Costa Neto, presidente do partido, sugeriu que responsabilidade no caso é da equipe que fez auditoria. O relatório foi divulgado no mesmo dia em que o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, foi ao TSE para visitar a sala de totalização de votos” (Poder360).
“O TSE abriu na manhã da 4ª feira (28.set.2022) a sala da Seção de Totalização de votos das eleições. A visita foi guiada pelo presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes, e pelo secretário de TI do Tribunal, Júlio Valente. O convite para conhecer a sala foi feito por Moraes aos candidatos a presidente da República. Nenhum deles compareceu. Algumas siglas mandaram representantes. Foi o caso do PL” (Poder360).
“O setor é composto por uma equipe de 20 servidores que trabalham em conjunto com outros setores do TSE e dos Tribunais Regionais Eleitorais. A equipe não faz a totalização, que é realizada por um computador, que fica no Centro de Processamentos de Dados, sem qualquer interferência humana” (g1).
“O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse nesta quarta-feira (28) que o setor de totalização de votos do TSE não é uma sala secreta, ao contrário do que afirmou diversas vezes o presidente Jair Bolsonaro (PL). ‘Não tem mais [sala secreta]. Agora é aberta’, disse Valdemar ao visitar o setor. O espaço, porém, já era aberto aos partidos e fiscais das eleições em pleitos anteriores” (Folha).
“A 4 dias das eleições, PL alerta para ‘vulnerabilidades relevantes’ nas urnas. Documento não aponta, no entanto, quais falhas seriam; mais cedo, Valdemar Costa Neto esteve ao lado de Alexandre de Moraes” (O Antagonista).
“Urna eletrônica: conheça a história do equipamento que mudou as eleições no Brasil. Sistema é confiável, foi adotado pela primeira vez em 1996 e nunca foi fraudado. E, não, não existe uma sala secreta do TSE para a apuração dos votos” (Estadão).
“É importante não confundir as zerésimas de totalização emitidas pelo TSE e TREs com o relatório da zerésima que será impresso por cada urna eletrônica no domingo (2), a partir das 7h (horário de Brasília), que comprova que não existe voto no equipamento para qualquer candidato antes do início da votação” (TSE).
“Exército nega que Alto-Comando tenha se posicionado sobre respaldo ao resultado das urnas. Em nota, o Comando da Força repudia reportagem do Estadão que revelou entendimento de oficiais-generais a favor de chancelar o anúncio do vencedor na disputa presidencial pelo TSE” (Estadão).
“Após Congresso da Colômbia se tornar pet friendly, deputado leva seu cavalo a sessão” (g1).
“Homem entra em supermercado montado a cavalo e é retirado por seguranças” (g1).
“Bancos na Dinamarca reduzem aquecimento e dão cobertor à equipe” (Bloomberg).
“Se uma guerra nuclear acontecer, ela será precedida por previsões de que é altamente improvável” (Wolfgang Münchau, Eurointelligence).
“A censura brasileira no The New York Times. … defender as liberdades individuais passou a ser sinônimo de apoiar incondicionalmente o atual presidente, enquanto defender a democracia passou a ser sinônimo de apoiar incondicionalmente as decisões muitas vezes desproporcionais do STF em seus inquéritos ilegítimos” (André Marsiglia Santos, Crusoé).
“O jornal norte-americano The New York Times fez algo que quase nenhum coleguinha na velha imprensa brasileira teve coragem: ele disse a verdade sobre o Brasil, ou pelo menos uma verdade sobre os ataques à nossa democracia vindo exatamente de quem a deveria proteger. Em um artigo inserido na seção ‘Democracia Desafiada’, o NYT pergunta no título se ‘a Corte Suprema do Brasil está indo longe demais’” (Paula Schmitt, Poder360).
Playlist Condizente — The Festa da Democracia Mix — 2239
Zum-Zum — Jorge Mautner, Nelson Jacobina
“O tormento vence o amor.”
Liga da Justiça (Mulher Maravilha) — LevaNóiz
“Liga da Justiça toda dominada.”
Baixo Rio — Ed Motta
“Caminhar na cidade.”
Chalana — Almir Sater
“Bem longe se vai.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Essa sala, é importante que se coloque, ela não conta votos. Não há contagem manual de votos.”
Ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE; final de setembro, por aí
O Artilheiro Musical
Não pede música, faz
“Achei que tinha sumido com os fatos.”
Guilherme & Benuto; Vagabundo Chora
Last but not least
O chato do Português
“É uma sala, como vocês puderam ver, uma sala aberta, é uma sala clara. Não é nem sala secreta, nem sala escura.”
Ministro Alexandre de Moraes, presidente do TSE; final de setembro, por aí