Presidente Outra Vez
Dois jeitos de contar a mesma história | As lágrimas de Lula e Bolsonaro | O tédio com o novo governo | Twitter em 2023 | Eduardo Cunha na torcida | 'Propicionem' o Bessias
Uma fábula republicana e brasileira
Se não por opção, deve ser mesmo chata a aposentadoria. Mais ainda se o vivente for alguém que tenha, digamos, alcançado certa relevância em vida. Depois de aventuras e desventuras, nacionais e internacionais, descobrir-se, exceto o que inventar para si nas redondezas, sem ter lá muito o que fazer.
Busque-se a abordagem positiva, sumidos (acanhados?, escondidos?) que andam os pessimistas do Brasil. Para qualquer um (ou não), pior que aposentadoria indesejada seria a privação da liberdade. E mais ainda se o vivente tiver, digamos, apreço por sair mundão afora — e convites para isso.
O otimismo, entretanto, previne a consideração de possibilidade ainda pior: a combinação das duas coisas. O vivente, praticamente já aposentado, ser privado da liberdade. Não podendo, portanto, sequer ficar inventando o que fazer, muito menos ficar sem fazer nada, que dizer de contar histórias.
Sejamos otimistas: com paciência e confiança no sistema, comportamento e laços adequados, viria a alvissareira notícia do término do cárcere. Exceto por um detalhe. Se antes já houvera impedimento de assumir, digamos, à brasileira, função num ministério, maior viria a ser a restrição posterior.
Pessimismo à parte, uma situação como essa se mostraria dificultosa para qualquer um (ou não) — até para um pessimista. E, outra vez, mais o seria para um vivente que só tenha feito, quiçá otimisticamente, uma única coisa a vida toda, e que seja essa a única coisa que ainda saiba, bem ou mal, fazer.
Com isso em mente, descrição de singular personagem, feliz daquele apto a abandonar a indesejada aposentadoria, livre, reabilitado a retomar a única atividade para a qual foi, na vida, segundo suas próprias e belas palavras, alguma vez diplomado: a de Presidente da República Federativa do Brasil.
Como se fosse preciso
Haveria outra forma — um pouco menos alegórica, ainda menos elegante e bastante menos respeitosa — de contar essa história. Depois de quase dois anos detido, depois de solto, depois de descondenado pela condenação dos processos que o condenaram, o possível personagem, antes viúvo, agora recém-casado, vê-se de repente na perspectiva de ficar mais em casa — e, apesar do alardeado vigor de jovem adulto, ou por isso mesmo, percebe o enfado. Percebe também não haver, em seu partido, nenhum nome capaz de vencer as eleições contra o provável adversário. Percebe talvez também que o provável adversário, complementar antagonista e vice-versa, é o nome mais capaz de lhe garantir uma não derrota. Além de perceber tudo isso, percebe que muitos percebem igualmente tudo isso. Sem fazer de conta que não percebe, ainda que não o tenha dado publicamente a perceber, percebe-se pensando, de si para si: “Vou ser presidente outra vez.” Em campanha, quando perguntado sobre programa econômico, nomes de ministros, plano de governo, pouco responde, como se não fosse preciso. Como não era preciso, elegeu-se. Eleito, como é preciso, muda logo o tom. Talvez, como sempre é preciso, para fazer mais do mesmo. Como sempre, muitos parecem se surpreender ao saber do que já sabiam. Toma posse. Outros tantos continuam a se surpreender com o que já sabiam. No outro dia, o segundo do terceiro mandato, alguém da alta cúpula defende a reeleição. Como se fosse preciso.
Pensamento estratégico
O choro de Lula, assim como o de Bolsonaro, parece sincero. Quando falam de questões que lhes tocam o âmago, mesmo o coração, sentem. A seu modo, são coisas que buscam resolver, problemas que gostariam de solucionar. O problema parecem ser os métodos e as práticas atrelados a isso. As outras agendas, subjacentes (ou nem tanto).
Nas ilibadas palavras de André Esteves sobre Lula e o PT: “O Lula é meio Macunaíma, meio vilão, meio herói, vai contar história legal e todo mundo gostar do cara. O problema é o que vem junto, que é aquela turma ali do PT, que aí já é mais complicado.” Nada de negação da política. Outras agendas.
Considerando-se as aparentes intenções de longo prazo e o lastro ideológico não aparente, é evidente a substancial diferença na dimensão e no alcance do pensamento estratégico de ambos — e daqueles que os cercam. Pelo que deles como mandatários se conhece, Bolsonaro e Lula não parecem considerar indevidas as práticas indevidas dos seus e de seus governos.
Algo de bastidor
Houve quem dissesse não haver quem dissesse o que iria acontecer depois.
| Leia | Ouça | Veja |
“O mistério da caneta da posse de Lula. Presidente disse que recebeu esferográfica em 1989 de um militante petista, mas o modelo da caneta só foi lançado 13 anos depois.” | CNN Brasil
“Processos contra Lula ficarão parados no STF por 4 anos. Segundo a Constituição, o presidente da República não pode ser responsabilizado por atos ocorridos antes do exercício de seu mandato.” | Poder360
“O governo Lula tende a ser mais intervencionista. Mas sua capacidade de intervenção deve ser fortemente limitada pela escassez de recursos. A atração de capitais privados, por sua vez, dependerá do nível de confiança que a política econômica conseguir criar.” Celso Ming | Estadão
“… cabe acrescentar uma dificuldade menos comentada: a administração interna do governo. Burocracia, gestão — não é assunto tão interessante, mas crucial.” Carlos Alberto Sardenberg | O Globo
“A grande diferença de Lula 2010 para Lula 2022 é seu estilo agora mais centralizador. O Lula de 2023 ouve menos gente, decide mais sozinho e está mais impaciente com os resultados.” Thomas Traumann | Poder360
“O ministro da Casa Civil, Rui Costa, defendeu nesta segunda-feira (2) a hipótese de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorrer à reeleição.” | Folha
“Haddad, o ministro decorativo.” | Estadão
“Ao prorrogar desoneração de combustíveis, Lula erra e eleva dúvidas sobre Haddad.” | Folha
“Haddad está gastando capital político e econômico com a repetição do discurso de mais do mesmo.” Adriana Fernandes | Estadão
“Moraes agiu como xerife. Sem lei, usou a força do cargo para botar ordem no faroeste digital.” Brenno Grillo | O Bastidor
“Moraes mandará prender Bolsonaro, apostam integrantes do governo que termina.” Rodrigo Rangel | Metrópoles
“O ministro Alexandre de Moraes, do STF, cancelou os passaportes e bloqueou as contas bancárias dos jornalistas Paulo Figueiredo e Rodrigo Constantino.” | Revista Oeste
“Guilherme Fiuza tem perfis retidos no Twitter, Instagram, YouTube, Facebook e Telegram. Segundo apuração da TV Globo, o bloqueio das contas foi determinado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.” | G1
“YouTube, Twitter, Facebook, Telegram e Instagram suspenderam as contas dos comentaristas bolsonaristas Rodrigo Constantino, Guilherme Fiúza e Paulo Figueiredo Filho nas redes sociais. Segundo a CNN Brasil, a decisão — ainda sob sigilo — partiu do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e os três são investigados por divulgação de discurso de ódio e antidemocrático.” | CartaCapital
“Alexandre de Moraes ‘determina a própria prisão’ e PF investiga ação fake em possível invasão hacker no CNJ.” Fausto Macedo | Estadão
“Invasão no sistema do CNJ inclui mandado falso em que Moraes pede a própria prisão.” Bela Megale | O Globo
“O tempo dirá se 2022 foi um ano de inflexão das democracias liberais ou só um sobressalto em uma trajetória de deterioração. O Brasil ilustra esse suspense. … Mas não encontrou alternativa senão resgatar o lulopetismo, que agora promete remediar os estragos de Bolsonaro com mais populismo fiscal, enquanto a Suprema Corte lida com franjas antidemocráticas flertando com novas arbitrariedades.” | Estadão
“Lula fala em união e paz, mas discursos da posse evocam revanche.” | Poder360
“Até agora, Lula não adotou discurso de pacificação.” Augusto de Franco | O Antagonista
“Lula resgata fantasia de salvador da pátria no retorno ao Planalto” Robson Bonin | Veja
“O que Lula postulou em termos gerais sobre o que pretende fazer na economia faz parte de seu discurso padrão de quase meio século de vida pública.” William Waack | Estadão
“Moro cobra Lula por não ter citado combate à corrupção na posse. Assunto não apareceu nos 3 discursos do presidente; Lula citou somente o cumprimento da Lei de Acesso à Informação.” | Poder360
“Comandante de Bolsonaro falta à troca de chefia da Marinha em ato inédito desde redemocratização” | Folha
“Depois de causar desconforto e receber críticas praticamente unânimes por faltar à transmissão de cargo ao sucessor, almirante Marcos Sampaio Olsen, o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos apareceu de surpresa, e em trajes civis, para o almoço que sucedeu a cerimônia de posse.” Eliane Cantanhêde | Estadão
“‘Bessias’, o novo editor da República. Em primeiro ato, o novo Advogado-Geral da União, Jorge Messias, criou a Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia para combater fake news.” | O Antagonista
“AGU não diz como definirá o que é ‘desinformação’.” | Poder360
“A guerra que parou para ver Pelé — isso realmente aconteceu?” | Hoje no Mundo Militar
“Pelé, antes das partidas, costumava se deitar e fechar os olhos. Não sabíamos se ele dormia e se sonhava com os belos gols que faria. Ninguém podia importuná-lo, acordá-lo.” Tostão | Folha
Do
“Ao final de 2023, o Twitter não definirá mais a agenda diária de notícias para toda a imprensa norte-americana.” Casey Newton |
Na série “Sonoras Que Condensam a Vida”
“Ao menos no Lula 1 houve o cuidado de se conduzir a economia com rigor fiscal, contrariando até o discurso oficial petista. O Lula 3 reúne a mistura do pior de todos os governos petistas: a concentração de petistas do Lula 1 e a economia indo pelo caminho do Dilma 2. Será muito difícil dar certo.”
Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados; início de janeiro, por aí
A Artilheira Musical
Não pede música, faz
“Vamos contar histórias.”
Sandy; Lua Cheia
Last but not least
O chato do Português
“A AGU será uma instituição-chave para o desenvolvimento da administração pública consensual, nova face da administração pública no século XXI, integrando ações conjuntas que ‘propicionem’ a construção de credibilidade, previsibilidade e segurança jurídica.”
Jorge Messias, ao tomar posse como advogado-geral da União; início de janeiro, por aí