Daqui a sete dias, o que estará sendo dito. A aparência de normalidade é verdadeira, ou leva em si fatores que se buscará depois, olhando para trás, identificar. Quanto será continuidade, quanto será rompimento.
Fora os diretamente envolvidos, por dever ou poder, a população parece outra vez não se importar muito com a proximidade de um limiar institucional. Parte de nossa brasileira aparente normalidade.
Qual lado do limiar, passado ou futuro, adiante ou atrás, é mais próximo de nossa normalidade institucional. Liberdade, democracia. Continuamente rompidas, presente normal em nossas instituições.
Desta vez, plenário do Tribunal Superior Eleitoral. A diferença seria o modo asseado, mesmo brando, quase meigo. Pasteurização estética garantida pelo ar-condicionado a não permitir uma gota de suor sequer.
Intocável anfiteatro, até agora, com personagens desvirtuando a normalidade institucional na força de uma ação à distância. Não é nem mais preciso pegar uma caneta. Tudo sobre a internet, tudo via internet.
Apesar da normalidade com que se curvam a instituições, a situação está bem descrita nos meios de que dispomos. Não é por falta de imprensa — como as outras, brasileira instituição — que estamos no limiar.
Assim como insistiu com Bolsonaro sobre um golpe que ainda não veio, imprensa que insistiu com Lula sobre um subsequente terceiro mandato que à época também não veio.
Com intervalos eventualmente mais amplos que o de uma geração, é possível hoje perguntar se teremos alguma vez deixado de estar em limiar institucional. Pois, mesmo rompido, algum país aqui continuará.
Lula e Bolsonaro, em uma semana, serão novamente o presidente do Brasil. Não antes de dois meses, é verdade. Daqui até lá, e no que virá depois, qual será a normalidade institucional disso.
Bolsonaro e Lula, daqui a sete dias, serão novamente o presidente do Brasil. Será para convencimento de quem a reafirmação. Por mero tocar a vida que seja, estamos todos diretamente envolvidos nisso.
De acordo com o pensar e o sentir de cada um, é também hoje possível antever mais rompimento ou mais continuidade. Não, nada de alegoria. Da boa convivência, institucionalmente, passamos à literalidade.
O que nem de longe impede a infeliz normalidade, anormalidade que poderia e deveria ser, das intenções ocultas. Particulares ou institucionais, qual dos extremados lados será mais honesto nesse tocante.
Nunca antes na história desse país pareceu tão simples descrever o sentimento e o pensamento dos convictos: ódio e paixão. Não, não os convictos profissionais, diretamente envolvidos. Os outros, quase todos nós.
Mais impressionante que a combinação de ódio e paixão, de um lado, é a incontestável fleuma de racionalidade; do outro, também em ódio e paixão embebido, a incorruptível fleuma de benignidade.
Se não equivalentes, como bradam de lado a lado, extremos normalmente complementares. Não será marginal lembrança futura, literalmente, a burlesca imagem de nosso presente cabaré institucional.
Limiar por limiar, não é excessivo reiterar que o TSE, ultrapassando o Supremo Tribunal Federal, parece lutar para ser o principal responsável pela desordem informacional, lá conceituada, que afirma combater.
Judiciário que ocupa também o espaço deixado vago, em publicamente ainda insondáveis razões, por quem deveria conduzir o debate sobre as ditas novas mídias e a Comunicação — Academia, Legislativo.
Pode não ser à toa que só agora se ensaie, e fora do Brasil, um escrutínio da dubiedade dos algoritmos: quanto mais extremadas as publicações, maior o engajamento dentro das plataformas.
O desordenador é que no TSE, bem como no STF, o debate não diferencia a elaboração de teorias da aplicação das leis. Em seus plenários e gabinetes, afinal, combinam-se atualmente teoria e prática.
Como demonstram consequências fora das plataformas, uma combinação arriscada, pois pode redundar no reconhecido adágio a adornar ambientes e laboratórios dedicados à pesquisa pelo mundo:
‘Teoria é quando se sabe tudo, mas nada funciona. Prática é quando tudo funciona, mas não se sabe por quê. Aqui, combinam-se teoria e prática: nada funciona e não se sabe por quê.’
Sem brincadeira, não será nada jocoso se a desordem informacional deixar de sê-lo, passando da intangibilidade protegida de plenários e plataformas virtuais para uma concreta e periclitante desordem institucional.
Apesar de arbitrários e inúteis esforços de ordenamento da informação sobre fatos independentes, combinados à falseada limpidez de amorais algoritmos, melhor será que a desordem informacional assim permaneça.
Algo de bastidor
Daqui a sete dias, Bolsonaro e Lula. Em uma semana, Lula e Bolsonaro. É o que garante o TSE. De fato, isso talvez defina a desordem informacional.
L.O.V. Leia Ouça Veja
“Vai piorar” (José Henrique Mariante, Folha).
“Mas a verdade é irrelevante na atual campanha” (Estadão).
“O fato é que a situação está muito complicada” (Merval Pereira, O Globo).
“O mal-estar do liberalismo. A obsessão identitária alimenta a reação conservadora” (Fernando Schüler, Veja).
“O problema é o choque dessas táticas político-eleitorais com a realidade, pois parecem ter apostado numa monumental dissonância cognitiva coletiva” (William Waack, Estadão).
“É o caso de se relembrar uma piada de Millôr Fernandes. O sujeito pula do 20º andar de um edifício e, ao passar pelo 9º, comenta: ‘Até aqui, tudo bem’” (Elio Gaspari, Folha).
“A gosma oriunda da campanha bolsonarista espalhou-se por toda a comunicação eleitoral, dos dois lados. … A interpretação de texto, mesmo elementar, evidencia níveis deploráveis de distorção” (Demétrio Magnoli, Folha).
“O Brasil profundo é conservador, não reacionário. É religioso, não fanático. Quer justiça, não justiçamento. Prefere a liberdade à ditadura, o honesto ao corrupto, o sincero ao hipócrita, o sério ao fanfarrão. Não gosta da mentira, tampouco simpatiza com a censura. Cadê esse Brasil no segundo turno?” (Eduardo Affonso, O Globo).
“Pelo entendimento atual do TSE, de acordo com o conceito de ‘desordem informacional’ agora popularizado por Lewandowski, não seria mais possível fazer juízo de valor em propagandas eleitorais nem expor o passado de um candidato adversário sem resalvar em que estágio estão eventuais processos na Justiça” (Poder360).
“Veja como ficou carro da PF após ataque de Roberto Jefferson. Ex-deputado atirou e jogou granada de efeito moral contra policiais federais” (Poder360).
“PGR recorre ao plenário virtual do STF para tentar barrar resolução do TSE sobre fake news” (O Antagonista).
“No NYT, ‘um homem agora pode decidir o que pode ser dito no Brasil’. Jornal questiona ‘poder unilateral’ de Alexandre de Moraes” (Nelson de Sá, Folha).
“Especial: o editor da República” (Diego Escosteguy, O Bastidor).
“TSE extrapola limites ao remover notícias ‘de ofício’” (Vera Chemim, Poder360).
“TSE amplia próprio poder para excluir posts de redes sociais” (Poder360).
“STF referenda decisão que autoriza transporte gratuito no 2º turno” (STF).
“‘Facilite o povo pobre comparecer à urna’, diz Lula a governador. Candidato do PT ao Planalto deu declaração em Porto Alegre (Poder360).
“As pesquisas já começaram a mudar” (O Antagonista/Crusoé).
“É preciso reconhecer o talento de Jair Bolsonaro para normalizar o absurdo” (Estadão).
“Defesa diz ao TSE que só entregará relatório sobre as urnas após o 2º turno” (CartaCapital).
“Caso Jovem Pan: em julgamento de ações do PT, TSE impõe censura. Despachos são considerados ofensivos à Constituição; Tribunal atendeu campanha de Lula e mandou apurar suposto favorecimento a Bolsonaro” (Estadão).
“… seja qual for o fundamento legal a justificar sua atuação, o TSE sempre se equivoca quando suas decisões podem ser entendidas, por observadores isentos e qualificados, como prévia restrição da liberdade de expressão e de opinião” (Estadão).
“Há também uma onda de indignação pelo TSE ter censurado a rádio Jovem Pan, uma Fox News bolsonarista. A história é bem mais complicada” (Pedro Doria, Estadão).
“Deixando de lado que ‘corrupto’ e ‘ladrão’ são acusações das mais comuns em campanhas eleitorais — independentemente da folha corrida do alvo da injúria —, se a questão é a presunção de inocência, não faz sentido considerar que ‘genocida’ está no campo da crítica política e ‘ladrão’ não está” (Malu Gaspar, O Globo).
“‘Onde vamos parar?’, diz Marco Aurélio sobre censura a sua fala pelo TSE” (Juliana Braga, Folha).
“No trecho suprimido, o ministro aposentado do STF aparece dizendo que Lula não foi inocentado — em entrevista recente, Marco Aurélio atribuiu aos ex-colegas do Supremo a ressurreição política do ex-presidente” (O Antagonista).
“A conversa de Bolsonaro e Marcola sobre ‘pena de morte’” (Veja).
“A mentira de Lula sobre o Foro de São Paulo não vai colar” (Crusoé).
“Lula diz que Foro de São Paulo foi para moderar esquerda. Petista afirma que reuniu líderes latino-americanos para dizer que era possível chegar ao poder pelo voto” (Poder360).
“É um toque de ironia macabra que mais esse gesto de exaltação de um clube de autoritários, que defendeu o ‘direito’ da ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua de prender opositores (inclusive padres), tenha sido feito por Lula num encontro com freiras e padres” (Estadão).
“Em 2002, Bolsonaro elogiou e disse que votou em Lula” (Poder360).
“A questão que será resolvida na Suprema Corte é saber se a lei federal dos Estados Unidos permitirá que grandes empresas de tecnologia, como o Google, sejam processadas por conta do conteúdo que seus algoritmos fornecem a alguns usuários” (O Sabiá).
“As plataformas puderam abrigar, agregar e organizar vastas quantidades de conteúdo sem ter de se preocupar muito, do ponto de vista legal, com o que seria informação falsa, prejudicial ou perigosa” (Estadão/The Washington Post).
“Enquanto as próprias plataformas não puderem ser responsabilizadas por veicular informações criminosas, serão um instrumento eficaz para manipulação da opinião pública. Quanto ao TSE, precisa tomar todo cuidado para, a pretexto de zelar pelos valores democráticos, não exercer o papel de censor, deteriorando a mesma democracia que se pôs a salvar” (O Globo).
“A economia mundial vive momento de turbulência em meio a um neoliberalismo que não entrega os benefícios do estado do bem-estar social e abre brechas que alimentam movimentos extremistas e fundamentalistas” (Celso Ming, Estadão).
Playlist Condizente — The Novamente Mix — 2242
Réu Confesso — Tim Maia
“Por isso eu peço, peço pra voltar.”
Abrigo de Vagabundo — Adoniran Barbosa
“Vendo o sol quadrado na detenção.”
Nada Será Como Antes — Elis Regina
“Que notícias.”
Dança da Solidão — Beth Carvalho
“Resignado e mudo, no compasso da desilusão.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Quando foi em 89, eu cheguei tão perto, eu fui para o segundo turno e a gente chegou tão perto de ganhar as eleições, que eu descobri que era possível, sim. Era possível a gente ganhar pelo voto, sem precisar dar um tiro, sem precisar fazer nada de guerra. Era só organizar um pouco o povo, que a gente chegaria.”
Luiz Inácio Lula da Silva; meados de outubro, por aí
O Artilheiro Musical
Não pede música, faz
“Surgiu um gavião marvado.”
Tonico & Tinoco; Destinos Iguais
Last but not least
O chato do Português
“O que é engraçado é que o Estado, e o seu corpo policial, nunca foram bater num patrão porque não atendeu os trabalhadores, mas iam bater nos trabalhadores quando não atendiam o patrão.”
Luiz Inácio Lula da Silva; meados de outubro, por aí