Houve um movimento assim tempos atrás, não? Outro dia, alguém parece que sugeriu lançar um outro, inspirado no “Slow News”: “Stop News”. E agora o Conselho Editorial quer votar a ideia. A parte que mais gostaram foi a de chamar Joel Santana para a campanha. “Not ‘stop the news’. Stop news.” Serão demovidos. A proposta é ruim. A referência é quase incompreensível (se você acha que entendeu, não se preocupe). Toda essa velocidade noticiosa, porém, “playing the left, the right, in the medium”, é algo que faz pensar. Ou não. Diante de algumas coisas que saem na imprensa, como se dizia antigamente, era bom se ficássemos uns três ou quatro dias só no mesmo assunto. De vez em quando, que fosse. O mundo, alvíssaras, não para. Outra coisa que alguém sugeriu, mais ou menos antigamente ainda, é que o ciclo de uma notícia costumava ser de trinta e seis horas. Passado esse tempão todo, se não houvesse novidade, a coisa esfriava. Observe e tire você, leitor, suas próprias conclusões (vênia, máxima vênia). “A Abreviação na Duração dos Ciclos Noticiosos e a Redução no Aprofundamento Temático Cotidiano em Tempos de Redes Sociais e Aplicativos de Mensageria — Impactos no Porvir e Ameaça à Democracia.” Fica o título para a pesquisa em Comunicação. Melhor que uma semana inteira com a mesma notícia, só mesmo se parássemos para inteirar uma entrevista. Com alguém inteirado da briga por “control the match.” Sem necessário juízo de mérito ou demérito da pessoa humana, ou de como chegou até lá, ainda que possível. Pois, como diz uma das frases pendentes das estruturas do Conselho Editorial, “A afirmação de uma coisa não é a negação de outra.” Tudo isso para dizer que disse o seguinte o ministro Marco Aurélio Mello, aposentado do STF em 2021, à repórter Rayssa Motta (Blog do Fausto Macedo, publicado pelo Estadão), faz mais de um par de dias:
“Esquecem algo que Machado de Assis ressaltou: o chicote muda de mão.”
“A essa altura nós estamos, passo a passo, ficando perplexos.”
“O que me assusta é a hegemonia: foi unânime. E um julgamento combinado, pelo visto, porque foi muito célere.”
“Basta você parar pra ver quem está aplaudindo essa decisão. Aí você vê que a coisa é triste. Se confirma o que o então senador Jucá disse lá atrás, quando começou Mensalão, a Lava Jato, que era preciso estancar a sangria.”
O ex-ministro se refere à cassação do mandato de deputado federal de Deltan Dallagnol no TSE. Trechos de quatro ou cinco respostas que eram coisa de fazer o país parar o noticiário. Alvíssaras, o noticiário ainda não parou. E Marco Aurélio já foi perguntado sobre a indicação de Cristiano Zanin para o mesmo STF a que Deltan Dallagnol recorreu. Dias à frente, dias atrás. “Control the match by keep playing the left, the right, in the medium.”
| Destaques Não Aleatórios |
“Governo sem base está sempre vulnerável à imponderabilidade.” Alon Feuerwerker | Poder360
“A erosão institucional, nos casos isolados em que é bem-sucedida, é deflagrada de cima.” Marcus André Melo | Folha
“Flávio Dino e Alexandre de Moraes são acusados de excessos, mas nenhuma violação de lei lhes foi atribuída.” Janio de Freitas | Poder360
“A grande justificativa desse otimismo barato de agora é o fato de que o desespero nunca esteve tão em alta, ao contrário do que está em voga dizer.” Luiz Felipe Pondé | Folha
“O ministro Dias Toffoli foi sorteado como relator do pedido do ex-deputado federal Deltan Dallagnol para suspender a decisão do TSE que cassou seu mandato.” | CartaCapital
“O ódio a Vinicius Junior é mais que um criminoso preconceito racial. É também uma inveja a um jovem negro, sorridente, bailarino, mentalmente forte, um craque, um artista capaz de fazer coisas inimagináveis com a bola.” Tostão | Folha
“O Brasil está num momento complicado, porque a literalidade da lei é interpretada pelo STF e TSE de acordo com o momento político e com o réu que está sendo julgado. E não há uma definição clara do que é crime e o que não é crime.” Merval Pereira | O Globo
“São dados desastrosos, que podem ser explicados por muitos fatores, como a dificuldade dos alunos em seguir cursos mais exigentes, a precariedade dos cursos à distância, a necessidade de trabalhar, a dificuldade de pagar as mensalidades das faculdades privadas, e outros. O que é inexplicável é que ninguém parece se preocupar com isso.” Simon Schwartzman | Estadão
“A indagação política moderna é ‘como promover o bem-estar dos cidadãos?’. Os identitários a substituíram por outra, que não admite acordos: ‘Quem somos nós?’. … A resposta da esquerda enfatiza a diferença, a fragmentação, enquanto a direita apela à igualdade e à unidade. O deslocamento da política para a esfera das identidades é uma fórmula certa para a vitória dos conservadores.” Demétrio Magnoli | O Globo
“Os transexuais de hoje não precisam mais passar por cirurgias de redesignação de gênero, que são caras, complicadas e, muitas vezes, insatisfatórias. Podem manter o ‘equipamento original’, ‘de fábrica’, e ainda assim se declararem do gênero oposto. Se você ainda está na dúvida, fique tranquilo: praticamente todas as mulheres transexuais que você conhece têm pau, e nem por isso deixam de ser mulheres.” Tony Goes | Folha
“Primeiro vale observar que os grandes veículos (impressos, televisivos e digitais) parecem ter-se convertido ao modelo CNN: excesso de informação, sem base interpretativa capaz de articular a dispersão dos eventos noticiáveis ao real-histórico. … Trevas digitais tentam apagar o jornalismo. O passaralho, agora também tecnológico, sobrevoa cabeças patronais. Para quem mídia é só um negócio a mais, talvez pouco importe. Jornalismo, porém, é algo maior do que isso. Irá para onde vai (se for) a vida democrática.” Muniz Sodré | Folha
“Soros reconhece que o fundamentalismo do laissez-faire não é diferente, em essência, daquele que sustentou as experiências malogradas do socialismo real. Ambos têm em comum a certeza do conhecimento da verdade ‘última’, atingida a partir de procedimentos científicos. Uns e outros têm pretensões de praticar a engenharia social e almejam enfiar a sociedade nos escaninhos estreitos de suas certezas funestas. … A ortodoxia neoclássica parte do indivíduo como unidade de análise e chega ao equilíbrio geral entre a soma de indivíduos que formam uma economia harmônica. Seja qual for a interpretação mais correta das crises financeiras, mais importante é a constatação do caráter reducionista do pensamento que se arroga foros de cientificidade. Sua função não é propriamente a de indagar ou investigar, se não a de simplificar: certo ou errado, bem ou mal. Trata-se de justificar e não de compreender ou explicar.” Luiz Gonzaga Belluzzo | Valor
“O interessante foi a rapidez da mudança. Ainda me lembro dos Trapalhões sendo homenageados no Carnaval. Nem eles, com seu humor tosco, nem o Casseta & Planeta e sua arte bem mais crescidinha teriam muita chance no atual Brasil puritano. Já fomos um país capaz de rir de si mesmo, mas agora o tempo fechou. Ainda me lembro de ter defendido a tese da ‘liberdade da arte’ em um debate em Porto Alegre, à época de uma exposição tida como imoral, em um centro cultural da cidade. Disse o que me parecia óbvio, que a arte era frequentemente insuportável, e que quem se sentisse ofendido deveria passar longe da exposição e quem sabe escrever uma crítica pesada no jornal. Não colou, e o detalhe é que eram os ‘conservadores’ que me contestavam na plateia. Agora são os ‘progressistas’ que andam de dedo em riste, correndo atrás dos tribunais para censurar. Ao menos nisso, são perfeitamente iguais. Ambos desejam regular a cultura, ajustar a arte, a linguagem, os costumes a sua visão muito particular de mundo. E suspeito que eles são maioria.” Fernando Schüler | Veja