A expectativa finalmente atendida. A desordem tão previamente anunciada. Diante do tão rechaçado acontecimento, a euforia. A negativa a aproximar a investida, sempre mais perto. Tão aguardado, tão desdito anseio. Em face da repulsa, na face da repulsa, o prazer quase incontido. A reunião de vozes em uníssono. Alívio, a coesão reencontrada. Todos no mesmo barco. À custa de quê. De uma semana para outra, os problemas desaparecidos. Em uma tarde, a nação que se resgata. De que fundo. Do lado certo da história, não há para ninguém a dúvida. Na superfície, fé em quê, as perguntas que se deixa de fazer. O que se prefere deixar de lembrar. Em nome de dito bem comum, o esquecimento. Salve a democracia. Viva a liberdade. Dois errados não costumam fazer um certo. Os dois nunca errados; só fazem o certo. Fazer o errado para atingir o certo. E vice-versa. Uma épica contradição a definir uma triste época: dois lados unidos por absoluto relativismo. Dois lados daquilo que sequer lado tem, ou tinha. O recurso desequilibrado da selvageria. O uso indiscriminado da designação “terrorista”. Aquilo que não se pode mais dizer. Aquilo que só se pode dizer. A maioria a dizer, em anárquica e totalitária comunhão excludente, “eu quero é mais”. Em nome do quê. Haja pacificação. Porque, enfim, o capitólio é nosso.
| Destaques Não Aleatórios |
“Se Lula sabia do que estava por ocorrer e decidiu manter a viagem o fez porque não estaria seguro em Brasília ou porque não tinha condições de comandar as forças de segurança na capital federal. Ou ainda por ambas as hipóteses.” Maria Cristina Fernandes | Valor
“Exército poderia ter evitado a invasão. A Força tem dois batalhões que se revezam no subsolo do Palácio do Planalto, o Regimento de Cavalaria de Guarda e o Batalhão da Guarda Presidencial. As duas Forças respondem ao Comando Militar do Planalto e têm, como sua função primeira, a proteção do palácio presidencial. … Os invasores já dominavam o palácio presidencial quando as forças do Comando Militar do Planalto resolveram reagir. A atuação desta tropa independe de decretação de operação de Garantia da Lei e da Ordem.” Maria Cristina Fernandes | Valor
“O presidente foi informado que o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) convocou três vezes o batalhão do Exército para proteger o Palácio do Planalto, mas que, mesmo assim, o contingente foi insuficiente.” Bela Megale | O Globo
“A tese da falha de segurança, de tão cínica, enfraquecerá Lula e a democracia. Se o presidente simplesmente aceitá-la, tornar-se-á doravante refém dos militares, como se precisasse de sua licença para governar.” Cristiano Romero | Valor
“Todos perdemos. Não é trivial, embora seja condenável, que uma turba invada a sede dos Poderes em estado de total anomia social. Isso significa, também, que muitos no Brasil não se sentem representados por ninguém, a ponto de no meio desse vácuo vagarem perdidos pelo núcleo do poder e das instituições num transe coletivo.” Mario Rosa | Poder360
“A invasão do centro do poder brasileiro é, portanto, um sinal de alerta. Existem hoje no Brasil grupos extremamente radicalizados que são financiados e apoiados logisticamente por empresários. Eles estão prontos para espalhar o terror e desfrutam de certa compreensão e apoio no aparato de segurança.” Philipp Lichterbeck | DW Brasil
“Depois do ocorrido no domingo, a ideia de convergência, união e pacificação, anseio de muitos e promessa de campanha, fica mais difícil de ser alcançada.” Rubens Barbosa | Estadão
“Só isso – a combinação entre a força da lei e a concertação política – será capaz de assegurar liberdades conquistadas pela sociedade com tanto sacrifício.” | Estadão
“Supremo chama o diabo pelo nome.” Brenno Grillo | O Bastidor
“A palavra terrorismo deve ser usada com moderação.” Rodrigo Tavares | Folha
“Provavelmente convém a Bolsonaro ter queimado todas as suas chances agora: isso lhe permite esconder sua falta de vontade e capacidade de moldar a política.” Thomas Milz | DW Brasil
“Vivandeiras civis e oficiais pensando em golpe fazem parte da vida nacional desde a segunda metade do século 19. Bolsonaro adicionou a esse prato os ingredientes da indisciplina nas polícias militares e dos cidadãos dispostos a acampar pedindo um golpe militar.” Elio Gaspari | Folha
“Pesquisa indica que 38% acreditam que atos golpistas se justificam em algum nível.” | Estadão
“Alexandre de Moraes faz declaração de guerra. Ele compara a situação atual com Neville Chamberlain, que queria paz e cedeu a Hitler, e por fim Hitler invadiu a Polônia. Moraes citou Churchill, dizendo que ‘um apaziguador é alguém que alimenta um crocodilo esperando ser o último a ser devorado’. Então, se depender de Alexandre de Moraes, como ele demonstrou no discurso de posse na presidência do TSE, é guerra.” Alexandre Garcia | Gazeta do Povo
“A Polícia Federal liberou nesta terça-feira cerca de 600 pessoas presas acusadas de participarem dos atos antidemocráticos. Entre elas estão idosos com mais de 65 anos, mulheres que têm filhos pequenos e pessoas com comorbidades graves.” | O Globo
“Flávio Dino nega que crianças tenham sido presas. Ministro disse que só foram conduzidas à polícia para acompanhar os pais.” | Poder360
“Nos EUA, a invasão do Congresso surpreendeu a todos. Aqui, era segredo de domínio público. … As hordas acamparam nas ruas, diante dos quartéis — não dentro deles. Cabia às forças policiais, não às Forças Armadas, removê-las da cena. Por que a Força Nacional não agiu? A resposta encontra-se na inclinação de Lula à contemporização.” Demétrio Magnoli | O Globo
“A democracia brasileira não é fraca. Fracos são os políticos que têm a obrigação de protegê-la.” Demétrio Magnoli | Folha