WhatsApp é Rede Social?
Meio de comunicação | Público | Privado | Uma espécie de audiência | The Trending Topic Mix | D2 na vanguarda | Trio Parada Dura | Proposta de golpe na casa de todo mundo
A se considerar que haja um problema com as redes sociais, é notável o tanto de críticas endereçadas à ferramenta em si, não ao uso que dela se faz. Muito se debate sobre como evitar que certas e incertas opiniões sejam publicadas. Pouco se reflete por que alcançam tanto fôlego, aqui e globalmente.
Há um pessoal injuriado, como se diz no popular, com as coisas que um outro pessoal publica na internet. E vice-versa. De lado a lado, ao menos publicamente, nenhum dos lados aparece se perguntando sobre as razões e desrazões que compartilham, e que os levam a publicar o que publicam.
Fato preocupante, tampouco dão a impressão de fazê-lo privadamente, uma reflexão sobre as mútuas e complementares radicalidades e intolerâncias com que vêm há anos flertando. Em vez disso, o que é mais fácil, confrontam-se entre uma anárquica liberalidade e uma totalitária iliberalidade.
Mais fácil e mais perigoso. Diante de tal afastamento de um conceito comum de país, com redundância, com Supremo, com tudo, vai ficando cada vez mais distante a possibilidade de uma solução, civilizatória e republicana. É esse nosso surreal imbróglio whatsappiano. Melhor tratar das redes sociais.
E haveria alternativas. Manifestar-se no limite do alcance da voz e do corpo não é a mesma coisa que fazê-lo em meio de comunicação público. Tudo se complexifica, porém, quando aplicativos de mensagens privadas passam a viabilizar comunicação instantânea com uma espécie de audiência.
O vivente então cria um perfil em uma rede social. Indicará preferências, buscará conhecidos (seus e de todos), e terá assim seu ambiente virtual ali inicialmente definido. A partir disso, em irreal consideração, o que se daria? Nada. Não aconteceria nada que não fosse reação a alguma ação da pessoa.
De saída, o usuário veria apenas aquilo a que previamente indicara interesse. Sempre em ordem cronológica. Sem sugestões de assuntos outros ou pessoas outras a acompanhar. Sem destaque para perfis populares, sem lista de assuntos mais comentados. Ou seja, sem receber nada que não buscara.
Em suma, sem qualquer ação da plataforma. Poderia haver um ranking com os temas do momento? Sim. Poderia-se verificar quem está em alta? Sem dúvida. Conexões em comum dentro da própria rede? Certamente. Mas o algoritmo não destacaria nada de antemão, enviesadamente de graça.
Seria necessário um deslocamento dentro da plataforma, mais que mero clique em aba realçada, para acessar essas coisas. Isso poderia até ter um custo. Agir passivamente não traria recompensa. Não fez nada de novo, não acontece nada de novo. Nem mesmo a repetição ou reafirmação do antigo.
As plataformas seriam ambientes quase aritméticos. Digitais na tecnologia, analógicos no funcionamento. Quer mais, do mesmo ou não? Movimente-se. Ativamente. Aplicativos exclusivamente de imagens? Mesma coisa, ainda que se perdesse a agradável experiência de navegação, em sua fluidez algorítmica.
Fluido e agradável pela quase total passividade do usuário? Em face de ativos algoritmos. Delírio. Tudo de novo como mudar o canal na televisão. A estação no rádio. Mesmo o site ainda às vezes procurado na internet. Tudo muito antigo. Mais árduo que arrastar para cima, a tela, o dedo. Buscar. Escolher.
E os comentários? A grande questão. Visíveis apenas no perfil da publicação comentada, tanto para quem comente como para quem acompanhe um e/ou outro. Não apareceriam de maneira automática em nenhum lugar. Lê-los, somente nas publicações originais. Como nas páginas de jornais e revistas.
Os likes? Suprimidos da vista pública, algo já sugerido há algum tempo por aí. Republicar? Não traria problemas em ambiente menos automatizado. Nada de popularidade algorítmica, emotiva ou patrocinada. Um instante. Eliminar de vez os likes e os comentários? Do lucro com a intolerância, pouco se escuta.
Publicidade? Sim, desde que o usuário optasse por receber tal tipo de coisa. Semelhante à aba distante para os trending topics, a qual seria preciso se deslocar para vê-los, haveria uma para as propagandas. Nada contra o mercado, afinal. Como os antigos cadernos de ofertas, até em papel diferente.
Por último, o melhor. A moderação de conteúdo. Discussão em voga. Menos do que deveria. O camarada pode pensar o que quiser. Publicar na internet é outra coisa. Como observou o decano Janio de Freitas, ainda na Folha, mesmo temporalmente. De identificação mais consistente, quase nada se ouve.
Algumas coisas já acontecem. Fala-se nas plataformas como corresponsáveis pelo que vai nelas publicado. Sem a ação exponencial do algoritmo, isso talvez sequer fosse preciso. De um jeito ou de outro, mudanças virão. Não é má ideia que passem a lidar com o ônus de serem publishers, como de fato são.
Ainda são tratadas como bancas de jornais. Suas práticas, contudo, vão muito além de definir o que fica na prateleira mais visível. Considerando que a moderação atual se mostra falha, qual seria o contingente, algorítmico ou não, para uma filtragem adequada das publicações? Dos comentários também.
É uma forma de entender a falência do jornalismo mainstream. Se é possível consumir e publicar conteúdo livremente, sem qualquer reserva ética, legal ou financeira, por que perder tempo, como diria a canção, desperdiçando emoções? A reação do jornalismo tradicional a isso, essa é outra história.
Não esqueçamos das mensagens instantâneas. Mesma lógica. Se é possível haver grupos e canais com centenas, milhares de pessoas dentro das plataformas que igualmente são, ou em que se transformaram, os aplicativos seriam corresponsáveis pela transmissão hierárquica de conteúdo.
Estabelecer distinção entre uma reunião de equivalentes e o arrebanhar de uma audiência (poucos emissores, muitos receptores) não é complexo. A própria descrição de tais funcionalidades, oferecida pelos aplicativos, é indicativo disso. Atribuição de responsabilidades. Modelo de negócio.
Nada ideológico. Nada de censura, muito menos prévia. Longe disso, por favor. Indivíduo ou instituição, quer publicar no aplicativo e na rede social? A plataforma viabiliza? Pois que publique. E lidemos com as consequências, big techs também. Ah, mas seria o fim da liberdade de expressão. Ao contrário.
Na crença de haver critérios equânimes no país. Pois a revista e o jornal do bairro, desaparecidos, respondem pelo que publicam. A complexidade, se houver, estaria na recepção, convertida com os aparelhos em essencialmente individual. E o indivíduo, alvíssaras, ainda é livre. Chega, que desvario.
Algo de bastidor
Enquanto no Brasil criam-se modos para a defesa parcial e sumária de conceitos que, assim, deixam de representar a democracia e a liberdade de expressão nas redes sociais, a responsabilidade das plataformas e de seus algoritmos é presentemente discutida a sério em cortes e parlamentos mundo afora. Oxalá o bem comum seja o trending topic definitivo.
| Leia | Ouça | Veja |
“Se Lula representa trevas de imoralidade, o governo Jair Bolsonaro marca época de estupidez monumental. … A situação — faz muito — passou todos os limites aceitáveis. Simplesmente, não há corpo social que resista a tantas agressões e sucessivas humilhações. Na escuridão do momento, balizas civilizatórias estão sendo colocadas perigosamente em xeque. Melhor não brincar com certos instintos bestiais.” Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr. | Estadão
“Há um entendimento no STF, e entre muitos caciques da política e do Judiciário em Brasília, que a prisão de Bolsonaro serviria apenas para torná-lo um mártir. A ineligibilidade afastaria Bolsonaro da política e tiraria parte de sua força. A comparação com Lula, que foi eleito após sair da cadeia, é citada como um exemplo do que poderia acontecer a Bolsonaro.” Brenno Grillo | O Bastidor
“É evidente que se deve diferenciar quem usa da violência, bloqueando estradas ou invadindo um palácio, de quem emite meramente uma opinião, desprezível que seja, nas redes sociais. Diferenciar essas coisas é parte essencial, em última instância, da fronteira que separa um regime autoritário de uma democracia liberal.” Fernando Schüler | Veja
“É mesmo fantástico que uma Corte constitucional pretenda se afastar do front político (em que se colocou) escolhendo sua agenda sob critérios políticos; e isto enquanto sustenta a delegação que investiu Alexandre de Moraes de ser o Supremo. Não tem como dar certo.” Carlos Andreazza | O Globo
“Mídia tradicional anuncia o fim do consórcio de veículos de imprensa. Grupo foi criado em junho de 2020 sob o argumento de que seria preciso um sistema alternativo para informar dados da covid. Embora o consórcio tenha afirmado ao longo desses 965 dias que era realizada uma apuração em conjunto e independente com profissionais dos 6 veículos, na realidade, o grupo dependia dos dados do Ministério da Saúde como qualquer outra publicação que divulgava as exatas mesmas informações.” | Poder360
“WhatsApp lança no Brasil o ‘Comunidades’, recurso que pode reunir até 5 mil pessoas. … o recurso chega menos de três semanas após a invasão golpista de Brasília — ele já havia sido adiado durante o período das eleições presidenciais de 2022.” | Estadão
“Toda censura tem um elemento de interesse e todo interesse é uma fatia de algo pessoal que põe em dúvida a moralidade que, obviamente, é coletiva. Se assim não for, criamos em nós mesmos a mendacidade como um ideal ou valor.” Roberto DaMatta | Estadão
“As imagens registradas dentro e fora do prédio do STF foram divulgadas para toda a imprensa, diferentemente dos vídeos com as depredações no Palácio do Planalto e do Congresso — esses foram enviados primeiro para a Rede Globo.” | Poder360
“Até os golpes precisam de uma etiqueta, e os brasileiros sempre a tiveram. Nunca se invadiram palácios nem se depredou o patrimônio. As cenas ocorridas nos prédios da praça dos Três Poderes foram inéditas pelo vandalismo, pela vulgaridade e pelo despropósito.” Elio Gaspari | Folha
“‘Democracia não correu risco no 8 de Janeiro’, diz Miro Teixeira. Segundo o ex-deputado e ex-ministro de Lula, nunca houve aderência a golpismo e a Constituição já tem remédios para iniciativas contra os Poderes.” | Poder360
“Os militares e a democracia. Se golpe não houve, isso se deve a três generais democratas que exerceram um efetivo protagonismo, embora pouco tenha aparecido na imprensa.” Denis Lerrer Rosenfield | Estadão
“O que levou ao engajamento político do Exército especialmente a partir de 2018 (ainda antes das eleições) não era o intuito de ‘tutelar’ a Nação. Mas, sim, a noção entre seus principais comandantes de que o tecido social se esgarçava perigosamente em função da corrupção dos dirigentes políticos, da disfuncionalidade e da baixa representatividade do sistema político — sem que os militares tivessem nem sequer o contingente necessário para eventualmente garantir lei e ordem.” William Waack | Estadão
“Só consegui ler agora o relatório do interventor-jornalista Ricardo Cappelli sobre os atos golpistas, ops, quero dizer, sobre as manifestações do 8 de janeiro. Não, não estou relativizando a invasão bolsonarista à sede dos Três Poderes, mas apenas usando a mesma linguagem de Cappelli, que, para minha absoluta surpresa, não citou as palavras golpe ou terrorismo e suas derivações uma única vez ao longo do documento de 62 páginas.” Claudio Dantas | O Antagonista
“O PT poderia ter se empenhado de verdade para o afastamento de Bolsonaro, mas lhe era mais conveniente deixar o ex-presidente sangrar (e o país se exaurir junto) do que enfrentar o general Mourão nas urnas. E ficaria difícil sustentar a tese de que o impedimento de adversários era legal, mas virava golpe quando a vítima fosse um dos seus.” Eduardo Affonso | O Globo
“Crítica a Temer mostra um Lula assombrado pelo impeachment. É uma variante nova do ‘nós contra eles’ que sempre pautou o discurso político petista — antes, ‘eles’ eram ‘as elites’; agora, a sugestão é de que todo opositor é um golpista potencial.” Igor Gielow | Folha
“AGU irá analisar fala de Lula que tratou impeachment como ‘golpe’. Pedido contra presidente fala em responsabilizá-lo por propagar ‘desinformação’; órgão anti-fake news da AGU ainda não atua.” | Poder360
“Flávio Dino apresenta Pacote da Democracia para Lula. A iniciativa é uma reação aos atos terroristas que ocorreram no dia 8 de janeiro, em Brasília.” | Agência Brasil
“Pacote antigolpe de Lula obrigaria big techs a apagar posts. Ministro da Justiça fala em enquadrar publicações consideradas criminosas.” | Poder360
“Discursos recentes mostram que Lula tenta ampliar base própria para não depender de centristas em próximos pleitos.” Alon Feuerwerker | Poder360
“Lula pagará caro por reeleição de Lira, diz Chico Alencar. Deputado do PSOL afirma que presidente da Câmara fará governo de refém: ‘É um Eduardo Cunha repaginado’.” Bernardo Mello Franco | O Globo
“Lira distribui R$ 70 milhões a deputados para obter vitória acachapante na Câmara. Presidente da Câmara usa cargo para aumentar privilégios dos colegas que irão escolher, no próximo dia 1.º, quem irá comandar a Câmara no biênio 2024/2025 e aumentar poder de barganha em negociações com Lula.” | Estadão
“Como a maioria dos impostos no Brasil incide sobre o consumo, pode-se dizer que os pobres do Brasil pagariam por um gasoduto no país vizinho, do qual o Brasil provavelmente não tiraria muito benefício. … Só nos resta esperar que Lula se abstenha de suas absurdas aventuras no exterior. O risco de um novo fracasso é enorme.” Alexander Busch | DW Brasil
“Deputado aciona PGR contra Agência Brasil por linguagem neutra. Em ofício, José Medeiros (PL-MT) diz que termo ‘eleite’ em texto oficial ‘agride a língua portuguesa e abole os gêneros’.” | Poder360
“Parlamentares eleites reúnem-se pela primeira vez em Brasília. Encontro antecede o Dia Nacional de Visibilidade Trans. … *A pedido das parlamentares eleites, a repórter utilizou o gênero neutro nas construções das frases.” | Agência Brasil
“Ministros do STF terão segurança reforçada em Lisboa após bolsonaristas em NY. Grupo do ex-governador João Doria, que organiza conferência, já pediu reforços à polícia local.” Mônica Bergamo | Folha
“Líder do PCC voltou para Brasília após ficar menos de um ano em Rondônia. Em março do ano passado, Marcola foi transferido de Brasília para o presídio federal de Rondônia. A mudança ocorreu a pedido de Ibaneis Rocha (MDB), atualmente afastado do governo do Distrito Federal. À época, o emedebista afirmou que era ‘inadmissível aceitar a instalação do crime organizado na capital da República’.” | O Antagonista
“Simetria específica: Bolsonaro acusa o STF de patrocinar um golpe ao anular as condenações de Lula; Lula acusa o STF de patrocinar um golpe ao avalizar o impeachment.” Demétrio Magnoli | Folha
Do
Na série “Sonoras Que Condensam a Vida”
“Os tambores no samba e as religiões de matriz africana sempre caminharam juntos. Essa coisa da família tem muito a ver com o samba. Quero muito mais neste momento um trabalho que me leve ao encontro com a minha família. A gente teve esses valores familiares tão deturpados ultimamente.”
Marcelo D2, mais uma vez na vanguarda; final de janeiro, por aí
O Artilheiro Musical
Não pede música, faz
“Se vou pela esquerda, se vou à direita, não tem diferença.”
Trio Parada Dura; Beco Sem Saída
Last but not least
O chato do Português
“Tinha gente que colocava (o papel) no meu bolso, dizendo que era como tirar o Lula do governo. Advogados me mandavam como fazer utilizando o artigo 142, mas tudo fora da lei. Tive o cuidado de triturar. Vi que não tinha condições, e o Bolsonaro não quis fazer nada fora da lei. A pressão em cima dele foi uma barbaridade. Como o pessoal acha que ele é muito valente, meio alterado, meio louco, achava que ele podia dar o golpe. Ele não fez isso porque não viu maneira de fazer. Agora, vão prendê-lo por causa disso? Aquela proposta que tinha na casa do ministro da Justiça, isso tinha na casa de todo mundo.”
Valdemar Costa Neto, presidente do PL; final de janeiro, por aí