Não deixa de ser curioso que um levasse messias no nome e o outro fosse tido como a salvação. De milhões a última esperança, alcançou mesmo inéditas alturas a espécie de messianismo de ambos naqueles tempos.
Através dos corações e mentes de fiéis e de neófitos seguidores, também de correligionários de ocasião, a liturgia que se propagava em torno deles fez, outra vez, a crença se sobrepor à razão naquela terra.
Tão grandes se tornaram, que poucas palavras precisavam dizer para muitos homens movimentar. Tão colossal fenômeno, que somente os ingênuos não entendiam como fora isso possível em época tão avançada como aquela.
Só mesmo uma nação gigante, e pela própria natureza, para abarcar dois líderes assim concomitantemente. Não seria nunca possível, porém, doce e amargo delírio, que a liderassem conjuntamente.
Diferentes que eram, discutiam muito. Entretanto, complementares que eram também, muito se correspondiam. Levaram anos até encontrar um modo harmonioso de combater entre si. Eles — e mais ninguém.
Talvez menos para um do que para o outro, a descoberta de que algo essencial os unia foi quase uma surpresa: pois era afinal neles, e somente neles, que tudo se concentrava; e era entre eles que tudo se resolveria.
A própria legião que dia a dia arrebanhavam, e cada vez mais, não percebeu de imediato a dimensão daquilo que aos olhos de todos se revelava. A luta que àquele povo cabia era a luta entre aqueles únicos dois.
De tal magnitude, é claro, não poderia nunca tal dupla se colocar novamente em risco. Assim, com a admiração do povo e as bençãos dos céus, uma solução nada perigosa foi encontrada para dar fim ao eterno conflito.
Sim, um inofensivo duelo. Pelo menos, para ambos. Não para a população, até então aparentemente pacífica, mas que percebia deles mais as diferenças que as complementaridades, e passou a brigar por causa disso.
Por alguma emocional razão, população que restou dividida entre um e outro. Nem mesmo os contadores de histórias, antigamente ciosos da irrelevância das próprias preferências, não mais alheios se mantinham.
Ainda que um vencedor tenha sido declarado pelo controverso árbitro da disputa, esquecido da regra implícita de que o melhor juiz menos aparece, a informacional desordem da situação não dava sinais de arrefecer.
Enquanto isso, a dupla da esperança, na similaridade exalada pela brecha entre a diferença e a complementaridade, permanecia preservada. Incólumes semideuses, rumo ao panteão dos consagrados.
Inigualável par de líderes, deixando atrás de si um povo rachado como terra em longa seca, ungido na comunhão de uma provisoriedade definitiva, em país que, antes do futuro, ficava para sempre em algum lugar do passado.
Algo de bastidor
Haverá um presente para o Brasil em algum lugar do futuro. É mais uma pergunta.
L.O.V. Leia Ouça Veja
“Lula, sobre eventual vitória: ‘Não será um governo do PT’” (O Antagonista).
“‘Depois Bolsonaro volta’, diz Guedes, sobre possível vitória de Lula” (O Antagonista).
“Bolsonaro achou que o clima de 2018 seria eterno. O presidente é, vamos dizer, ‘autêntico em sua brutalidade’” (Fernando Rodrigues, Poder360).
“De resto, não são os eleitores que ganham ou perdem uma eleição, nem mesmo os candidatos. É o país. Sua história continuará sendo escrita. Que não venham páginas muito duras” (Martha Medeiros, O Globo).
“Sim, as mentiras também revelam muita verdade sobre o mentiroso. Aconteça o que acontecer nas eleições, é viver o novo real e dar adeus às ilusões” (Nelson Motta, O Globo).
“Pobre Brasil diante de uma escolha entre duas falsas credenciais democráticas, uma representada por Lula, outra por Bolsonaro. Nem um nem outro defendem a democracia como um fim em si mesma, mas apenas como um instrumento para a conquista do poder, após a qual as instituições da democracia são progressivamente minadas” (Denis Rosenfield, Estadão).
“É nessa encruzilhada que o País se encontra. Ainda que a ampla maioria da sociedade apoie a democracia, há um longo e tortuoso caminho de aprendizado e amadurecimento cívico dos cidadãos. Oxalá essa trajetória um dia propicie melhores decisões políticas no futuro” (Estadão).
“As eleições, cada vez mais, serão como gladiadores numa arena se matando, enquanto o povo berra à sua volta” (Luiz Felipe Pondé, Folha).
“A cena de Jefferson não fecha” (Elio Gaspari, Folha).
“‘Eu não posso mais sair na rua’, diz Barbara Gancia sobre repercussão de post que cita filha de Bolsonaro. A jornalista foi acusada de ter comparado filha do presidente a garota de programa” (CartaCapital).
“O GLOBO esclarece erro na exibição de ambiente de apuração do segundo turno. Dados apresentados não são reais, mas, sim, hipotéticos e foram gerados para testar o sistema. A imagem do mapa de apuração que foi divulgada na manhã desta quinta-feira apresentava resultados hipotéticos para candidatos de todos os campos políticos, tanto na disputa presidencial quanto nos 12 estados em que haverá segundo turno. Os dados mostravam Lula à frente de Bolsonaro na disputa presidencial” (O Globo).
“Lula teve ‘virada’ às 18h44, com 67,76% das urnas apuradas” (Folha).
“Primeiro presidente derrotado em uma campanha pelo segundo mandato desde a instituição da reeleição, em 1998, Jair Bolsonaro recebeu uma votação superior à que o elegeu quatro anos atrás” (Malu Gaspar, O Globo).
“Em vídeo, TSE omite fatos e alega que não há censura contra a Jovem Pan” (Jovem Pan).
“Fato: TSE não censurou a Jovem Pan” (Justiça Eleitoral).
“A censura é um ato jurídico revestido de aparente legalidade, que se caracteriza pela abusividade empregada na interpretação e aplicação da norma” (André Marsiglia, Crusoé).
“Na internet, não existem soluções mágicas” (Demi Getschko, Estadão).
“Um candidato é um produto no mercado da política — num certo sentido, como uma marca de sabonete é um produto no mercado da higiene pessoal. Não divulgo meu voto e não solicito que leitores votem em alguém pelo mesmo motivo que não faço publicidade de outras mercadorias. Sei que sabonete é coisa diferente — mas isso só torna tudo pior” (Demétrio Magnoli, Folha).
“Como fazer desodorante caseiro da Glória Pires” (Estadão).
“Em manifesto, jornalistas apoiam Lula e repudiam Bolsonaro” (Poder360).
Playlist Condizente — The Credencial Democrática Mix — 2243
A Ponte — GOG, Lenine
“Esse lugar é uma maravilha.”
Bogotá — Criolo
“Fique atento.”
Caminhoneiro — Roberto Carlos
“Chuva e cerração.”
Romaria — Daniel, Seu Jorge
“Ilumina a mina escura.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“O voto da ministra Cármen Lúcia é um exemplo perfeito da situação institucional a que chegamos. Ela é favorável à liberdade de expressão, mas não agora.”
Fernando Schüler, cientista político; final de outubro, por aí
O Artilheiro Musical
Não pede música, faz
“Se aparece a barata no quarto.”
Cleber & Cauan; Cabo de Guerra
Last but not least
O chato do Português
“Eu tenho que levantar todo dia, eu tenho que ler as coisas que eu disse durante a campanha, pra mim não esquecer. Porque a gente esquece com facilidade os compromisso. A gente esquece.”
Luiz Inácio Lula da Silva; meados de outubro, por aí