Há quem diga faltar menos de um mês para as eleições. Exceto pela manutenção do Auxílio Brasil, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga dar a vida pela nossa liberdade. Exceto pela manutenção de uma liberdade entrincheirada, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga dar a vida pela nossa subsistência. Exceto pela manutenção do status de consumidores, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga defender a pluralidade. Exceto pela manutenção de uma inclusão excludente, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga defender a religiosidade. Exceto pela manutenção de uma comunhão impiedosa, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga lutar contra a corrupção. Exceto pela manutenção de privilégios particulares, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga lutar pela democracia. Exceto pela manutenção da intolerância com a preferência alheia, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga faltarem menos de dois meses para o segundo turno. Exceto pela manutenção do TSE, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga que as plataformas digitais combatem a desinformação. Exceto pelo bloqueio de informações, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga que as agências de fact-checking verificam os fatos. Exceto pelos fatos não verificados, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga que a imprensa é fonte fiel de informação. Exceto pelas informações não fidedignas, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga que o jornalismo é o rascunho da história. Exceto pelo escrito certo em linhas tortas, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga que o brasileiro já foi um ser cordial. Exceto pela excepcionalidade do SUS, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga que pode ou não haver golpe. Exceto pela manutenção desse traço de caráter da nação, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Há quem diga que liberdade e igualdade são afins. Exceto pela manutenção de arbitrária desigualdade, não há quem diga o que vai acontecer depois.
Algo de bastidor
Haverá alguém sabendo o que vai acontecer depois? Os primeiros também não sabiam, a diferença é que não tinham nem como imaginar. Terão lutado? Se há quem saiba ou diga, não se ouve.
L.O.V. Leia Ouça Veja
“No Brasil, já admitimos que um órgão de Estado tutele a opinião; aceitamos que puna pessoas em nome da verdade. Agora ensaiamos aceitar que seu poder não se restrinja aos espaços tradicionais da liberdade de expressão, mas se projete sobre as esferas da intimidade” (Fernando Schüler, Veja).
“PF não pediu quebra de sigilo bancário e bloqueio de contas de empresários bolsonaristas; decisão atendeu ao pedido de Randolfe. Delegado menciona suspeita de financiamento de atos antidemocráticos, mas só representou pela apreensão de celulares e pelo afastamento do sigilo das mensagens; ministro diz a interlocutores que tomou decisão espontaneamente” (Estadão).
“Sem provas claras e contundentes, Alexandre de Moraes desempenha nesse episódio mais o papel de mandante fora da lei e da Constituição do que de ministro que deveria zelar por essa mesma lei, por essa mesma Constituição” (Jornal da Band, em editorial).
“As buscas e apreensões nas casas dos oito empresários, e esperamos que de mais, cabem no reconhecimento como a necessária coleta inicial para a investigação de fato grave. O atual não inclui abusos e trapaças de Moros e Dallagnols. E revela as bordas enrustidas do bolsonarismo” (Janio de Freitas, Folha).
“Bolsonaro ataca Moraes e diz que autor de decisão contra empresários é ‘vagabundo’” (O Antagonista).
“EUA vão enviar navios à parada do 7 de Setembro no Rio. Embarcações virão para exercício; não haverá representantes no palanque carioca de Bolsonaro” (Folha).
“Apoio policial à democracia enterra risco de golpe de Bolsonaro; restou ao presidente ir ao debate. O Brasil de 2022 não é o de 2018; há quatro anos, o general Villas Bôas tuitava para manter Lula na cadeia e, agora, manifesta-se para defender a honra do Exército” (Marcelo Godoy, Estadão).
“TSE cria Núcleo de Inteligência para combater violência política. A ação é fruto de uma parceria firmada entre o TSE e o Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das Polícias Militares. A forma de atuação ainda será definida pelo presidente do Tribunal, ministro Alexandre de Moraes, que também exercerá a presidência do núcleo especializado” (TSE).
“O presidente Jair Bolsonaro afirmou que o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, está criando uma ‘inteligência paralela’ para ‘controlar o futuro do país’. ‘Se reuniu na semana passada com os comandantes de polícias militares à revelia dos respectivos governadores’. O presidente condicionou a entrega do poder à realização de eleições limpas no Brasil” (CNN Brasil).
“Com base nessas considerações, conheço da consulta formulada para responder que, no dia da eleição e nas 48 horas que o antecedem, bem como nas 24 horas que o sucedem, não é permitido o porte de armas nos locais de votação e no perímetro de 100 metros que os envolve, salvo aos integrantes das forças de segurança em serviço e quando autorizados ou convocados pela autoridade eleitoral competente, valendo tal proibição para os locais que Tribunais e juízes eleitorais, no âmbito das respectivas circunscrições, entendam merecedores de idêntica proteção, sendo lícito ao TSE, no exercício de seu poder regulamentar e de polícia, empreender todas as medidas complementares necessárias para tornar efetivas tais vedações” (Ministro Ricardo Lewandowski, em voto favorável, e seguido de forma unânime, à proibição do porte de armas em locais de votação; TSE).
“TSE encerra Cerimônia de Assinatura Digital e Lacração dos Sistemas Eleitorais. Sistemas foram assinados pelo presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, e por diversas autoridades presentes. A lacração dos sistemas consiste na gravação dos programas assinados em mídia não regravável e posterior acondicionamento em envelope assinado fisicamente e guardado na sala-cofre do TSE. Com base na próxima etapa do Calendário Eleitoral, as cópias dos programas lacrados serão distribuídas aos TREs para que possam ser inseridas nas urnas eletrônicas, juntamente com os dados de eleitoras e eleitores e de candidatas e candidatos” (TSE).
“Fotos raras do último líder soviético Mikhail Gorbatchov” (Russia Beyond).
“O legado do Gorbachev é tão contraditório e polêmico que ele próprio, nos últimos anos, começou a se pronunciar no sentido de que estaria arrependido da maneira como as coisas caminharam sob seu governo e de que sua intenção nunca tinha sido dissolver a URSS” (Rodrigo Ianhez, historiador; CartaCapital).
“Na Independência do Brasil, os portugueses pediram para sair primeiro” (Isabel Lustosa, Valor).
“E o Brasil criou uma língua. Também é português” (Público).
Playlist Condizente — The Bicentenário Mix — 2235
Música Urbana — Capital Inicial
“Gasolina e óleo diesel.”
Samba Makossa — Planet Hemp
“Onde é que você se meteu.”
Mané João — Virgínia Rosa
“Menino que estuda chega a chefe da nação.”
Barato Total — Gal Costa
“Pensamento que de um momento pro outro começa a doer.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Tchutchuca do Centrão? Você não tem classe pra fazer uma pergunta, não? Quem é tchutchuca do Centrão?”
Jair Bolsonaro, depois de ser referido à “história da tchutchuca do Centrão”; final de agosto, por aí
Last but not least
O chato do Português
“Não que alguém sério tenha dúvidas sobre as credenciais democráticas de Lula (o candidato mais próximo de tentar transformar o Brasil numa Venezuela é Jair Bolsonaro). Mas o cacoete de tratar as alas antidemocráticas que o PT abriga apenas como uma torcida de futebol exaltada é sempre um foco de preocupação.”
O Globo, não que alguém sério tenha dúvidas, em editorial; final de agosto, por aí