Bolsonaro e Lula, Lula e Bolsonaro. Reeleitos. Alguém enxerga mesmo isso? A sensação é de ainda não termos nos dado conta. A começar pelas candidaturas. Já constituem em si algo de outro espectro.
Ambos a liderar as pesquisas, cada vez mais próximos. Qual paladar, olfato, tato essa imagem desperta. Mais que imagem, possibilidade e expectativa. Afeto passado, de qual futuro?
A acontecer, segundo turno de aspecto e tanto. Fatos a obstruir a visão, tanto vemos que não vemos mais. Sons a dissolver a audição, tanto ouvimos que não ouvimos mais.
O que não estaríamos vendo. O que não estaríamos ouvindo. Fossem outras as expectativas e as possibilidades. Gostos, cheiros, toques. Sons, fatos. Imagens. Aspecto não passado, espectro sim futuro.
Certo, acordo. Possibilidade de candidatura, expectativa de vitória. Reeleitos. Novembro, dezembro — transição, continuidade e vice-versa. Alguém mesmo enxerga isso? Em meio ao que for, Copa.
Vencidas a transição, a continuidade ou a Copa, Natal e Ano-Novo. Um ou dois dias depois, posse. Teremos nos dado conta? De quem será a posse. Quem paga essa conta. O país em posse de quem. Conta.
Algo de bastidor
Se há sensação de não termos nos dado conta, quais serão os termos de quem com votos conta. De quem com votos não conta. De quem votos conta. Indiferentes com a tolerância, tolerantes com a indiferença. Arbítrio conta.
L.O.V. Leia Ouça Veja
[Cronologia de uma semana suprema]
[Segunda] “Democracia prevalecerá sobre retrocesso democrático, diz [Rodrigo] Pacheco. Presidente do Senado defende integridade das urnas e fala em pacificação; encontrou Alexandre de Moraes no TSE” (Poder360).
[Terça] “PF faz operação em endereços de Luciano Hang e de outros empresários bolsonaristas. A decisão, que ainda está sob sigilo, é do ministro Alexandre de Moraes. A operação se dá contra empresários que participavam de um grupo de mensagens por aplicativo em que foi feita uma defesa de um golpe de Estado caso o ex-presidente Lula (PT) vença Jair Bolsonaro nas eleições, conforme o site Metrópoles. Além das diligências, a decisão de Moraes determinou o bloqueio das contas em redes sociais e a quebra de sigilos bancários e telemáticos dos empresários” (Jota).
[Terça] “Presidente do TSE se reúne com ministro da Defesa. Conteúdo de encontro entre Alexandre de Moraes e Paulo Sérgio Nogueira não foi divulgado; nova reunião foi marcada para a próxima semana” (O Antagonista).
[Terça] “Após reunião com o ministro da Defesa, Moraes recebeu o diretor-geral da Polícia Federal, Márcio Nunes. Nesta semana, integrantes da PF começaram a inspecionar os códigos-fonte da urna eletrônica, bem como de todo o sistema eletrônico de votação” (Agência Brasil).
[Terça] “Nos celulares apreendidos pela Polícia Federal com empresários bolsonaristas, há troca de mensagens com o procurador-geral da República, Augusto Aras. Ainda segundo fontes do MPF, PF e STF, nas mensagens haveria críticas à atuação do ministro Alexandre de Moraes e também comentários sobre a candidatura de Jair Bolsonaro” (Felipe Recondo, Flávia Maia, Jota).
[Quarta] “Apreenderam os celulares dos empresários ontem — e ontem mesmo as conversas privadas já estavam em circulação no STF. Como é que pode? … Ligando os pontos: Augusto Aras faz saber à imprensa sobre a sua irritação e, logo depois, o STF faz saber à imprensa que o procurador-geral da República está nas conversas” (Mario Sabino, O Antagonista).
[Quarta] “O procurador-geral da República, Augusto Aras, se reuniu fora de sua agenda com o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. O encontro ocorreu na sede do ministério, em Brasília, e oficialmente serviu para dialogar sobre ‘o papel das instituições’. Estiveram presentes os comandantes das três Forças Armadas” (CartaCapital).
[Quarta] “Há um lado lunático nessa história, e a gente tem o direito de saber qual é” (Jornal da Band).
[Quarta] “O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, reuniu 23 comandantes-gerais da Polícia Militar nos Estados numa reunião extraordinária, para pedir que analisassem ‘eventual restrição ao porte de armas’ para a categoria de Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs) no dia das eleições” (Estadão).
[Quinta] “Como o inquérito é sigiloso, não podemos saber em que base a Polícia Federal pediu, e o ministro Alexandre de Moraes aceitou, a busca e apreensão. Espero que ele tenha feito isso diante de muitas evidências. … Cabe ao ministro Alexandre de Moraes mostrar as provas e os indícios que o levaram a aceitar esse pedido. Acredito que os tenha; se não tiver, terá sido uma ação completamente irresponsável” (Merval Pereira, O Globo).
[Quinta] “Inquérito policial deve ter como objetivo a apuração de fato determinado e por prazo certo. Não é uma espécie de escudo de proteção a ser renovado indefinidamente enquanto houver risco de novos crimes. Precisamente por ter sido – e continuar sendo – essencial na defesa do Estado Democrático de Direito, o STF deve ser o primeiro a zelar por sua autoridade. O caminho é a observância estrita da lei, motivando devidamente as decisões e restringindo ao máximo os casos de sigilo. A regra é a publicidade” (Estadão, em editorial).
[Quinta] “Conversas em que se ventilam simpatias golpistas, como no caso dos empresários bolsonaristas, são odiosas, mas não devem ser reprimidas como se fossem prática de crime — o que de fato não são. Nesse sentido, a operação autorizada por Moraes, dentro do que foi dado a se conhecer acerca de suas motivações, deixou grande margem para dúvidas … . É plausível que o magistrado, atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, tenha conhecimento de fatos objetivos, como eventuais articulações para atacar a ordem democrática, que justifiquem as medidas impostas aos envolvidos. É o que a sociedade, por todos os motivos, tem urgência em saber” (Folha, em editorial).
[Quinta] “Moraes teve reportagem como única base para decisão contra empresários bolsonaristas. Ministro do STF ordenou buscas contra empresários integrantes de grupo em que foram postadas mensagens de teor golpista” (Fabio Serapião, Folha).
[Sexta] “É constrangedor assistir aos arroubos condoreiros de ‘principistas’, movidos por brios que pretendem libertários, revoltados porque pessoas de quase fino trato foram chamadas a responder por suas maquinações golpistas. Sentem aquela comichão para defender a ‘liberdade de expressão’. E indagam em tom exclamativo: ‘Quer dizer, então, que não podemos pregar golpe de estado nem num grupo de zap!?’ Não podem. Ou podem. Mas têm de prestar contas à Justiça caso isso venha a público. A propósito: quais outros crimes, além dos tipificados nos Artigos 359-L e 359-M do Código Penal, poderiam se prestar a, digamos, divagações diletantes? Pedofilia? Assalto a banco? Narcotráfico? ‘Ah, não vamos misturar’. Não misturo. Mas quero saber com quais crimes se pode flertar e por quê. De resto, pergunte-se: serão mesmo apenas ‘divagações diletantes’? Pois é... Moraes atendeu a um pedido da PF. O ministro é relator dos inquéritos das ‘fake news’ e das milícias digitais, que sucedeu o dos atos antidemocráticos, arquivado a pedido desta impressionante Procuradoria-Geral da República” (Reinaldo Azevedo, Folha).
[Sexta] “A ação desta semana contra os empresários bolsonaristas foi proporcional? Não, não foi. Ela reforçou a impressão de que inquéritos iniciados com o propósito declarado de proteger a democracia ameaçam criar um regime de arbitrariedades” (Carlos Graieb, Crusoé).
[Sexta] “Duas horas após a publicação de uma decisão do presidente do TSE, Alexandre de Moraes, proibindo a veiculação de campanha do governo Jair Bolsonaro sobre o bicentenário da Independência, o gabinete do ministro divulgou um novo despacho em que libera a divulgação da peça publicitária” (Estadão).
[Sábado] “Empresário foi infeliz ao dizer no WhatsApp que preferiria golpe, diz dono da Havan. Luciano Hang afirma que só escreveu sobre reeleição” (Joana Cunha, Folha).
Playlist Condizente — The Eleitoral Mix — 2234
Campo Minado — Fughetti Luz
“Pra lá do arame farpado.”
Evidências — Chitãozinho & Xororó
“Diz que é verdade.”
Alexandre — Adriana Partimpim
“Conquistar por si só.”
Essa Tal Liberdade — Só Pra Contrariar
“A liberdade pelo teu perdão.”
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Perguntas devem ser curtas, objetivas e terminar com ponto de interrogação.”
Ruy Castro, colunista da Folha, lembrando o esquecido; final de agosto, por aí
Last but not least
O chato do Português
“Bonner, feliz era o Brasil e a democracia brasileira quando a polarização nesse país era entre PT e PSDB.”
Luiz Inácio Lula da Silva, lembrando o esquecido mérito do próprio partido na atual polarização nesse país; final de agosto, por aí