Pois começou o triplo B. Nem havia começado, e já havia recomendações de como não haver notificações a respeito em nossas ilibadas redes sociais. Ao contrário de outras épocas, o triplo B é dos poucos produtos audiovisuais, se não o único, do qual ainda é praticamente impossível não ouvir falar.
Nem na areia da praia — neste oceano de cada um por si e todos por nenhum, o triplo B resiste como marola midiático-esportiva (baeh) a balançar com todos.
Bons tempos em que era pura novidade.
Kleber Bambam e sua boneca de vassoura ou cabide que, após o abalo sofrido com o recolhimento, foi-lhe preciso restituir. Haveria mais exemplos de tal singeleza não mercantilista. Haverá algum estudo de comunicação sobre a mudança no perfil dos participantes, no perfil do jogo, ao longo dos anos.
“Uma análise da estatura educacional brasileira a partir da evolução da linguagem empreendida no Big Brother Brasil” — seria um possível título. Haverá melhor registro histórico de nosso país nestas duas décadas de séc. XXI do que o triplo B?
De uns tempos para cá, contam haver dentro das próprias instalações uma classificação entre conhecidos e anônimos, correto? Na Casa dos Artistas, parece, havia só conhecidos. Ou não tão conhecidos. Como em A Fazenda, então? Não, outro perfil.
Conhecidos ou não, anônimos ou não, o que ali desde sempre valeu foi o acesso irrestrito a um suposto bastidor. Entretenimento barato (de baixo custo) que se revelou tendência.
Havia rede social como as conhecemos hoje quando do surgimento do Big Brother original, ou mesmo do triplo B? Exceto as não digitais, parece que não, indica o calendário — tão em desuso.
As redes não digitais ou o calendário? Tanto faz, ambos prescindem de nós para seguir dando suas cartadas e seus vereditos, colocando-nos no paredão das determinações socioeconômicas e da passagem do tempo.
Ai, essas concatenações metafísicas. Em que bastidor pensava o Zuckerberg enquanto criava o Facebook? Aí, vem o iPhone e facilita tudo. Puro Zeitgeist.
Deve haver quem tenha dito que tudo virou triplo B. Só o que se vê actualmente, afinal, é bastidor. Mas um bastidor muito bem produzido. Onde quem é anônimo posa como se conhecido fosse, e onde quem é conhecido posa como se anônimo fosse.
Até que, de repente, conhecido e anônimo tornam-se os mesmos. Só que não, é claro. As exceções e as ilusões confirmam a regra, a divisão na morada do triplo B também.
Ou será que sim, anônimo e conhecido agora se equivalem, e rumamos para sermos todos finalmente iguais?
Seria para isso necessário haver uma verdadeira equivalência de bastidor. De quem será esse desejo, todos semelhantes em rudimentar expressão cotidiana, e sob qual critério de realidade.
Algo de bastidor
Rua dessas de miolo de bairro, estreita, pequena para os carrões. Restaurante desses de fase, enganosamente chique, custo razoável, início da onda natureba, menos carne, mais salada. Fila para entrar, fila para sair. Da calçada, de repente, avista-se a camionete. Luxuosa, grande, colorida, barulhenta. Na contramão, em ziguezague. Pela janela, sorriso aberto, rosto para fora, acenando com uma, guiando com a outra, para franco deleite dos manobristas e disfarçado interesse dos clientes, Kleber Bambam.
L.O.V. Leia Ouça Veja
“The Show That Changed TV Forever: 'Big Brother', 20 Years On”.
“Vídeo de abertura da primeira edição do reality mostra os participantes indo para o confinamento (29/01/2002).”
“Steve Jobs introduces iPhone in 2007”.
Playlist Condizente 03 22
One — Mary J. Blige, U2
“Have you come here to play Jesus?”
Stuck In a Moment You Can’t Get Out Of — Scarlett Johansson
“The colors that you bring.”
Why So Serious — Alice Merton
“When did we get like this?”
Mo Money Mo Problems — The Notorious B.I.G., Mase, Diddy
“Triple beam, lyrical dream.”
Misirlou — Dick Dale & His Del-Tones
De 1959, alguns assustaria se lançada actualmente.
Na série “Sonoras que Condensam a Vida”
“Para entrar, o direito à privacidade fica do lado de fora.”
Abertura do primeiro Big Brother Brasil; 2002, por aí
Last but not least
O chato do Português
“É a pessoa que sempre tá comigo aqui na casa.”
Kleber Bambam, sobre a boneca Maria Eugênia; Big Brother Brasil, 2002, por aí