Flerte Perigoso
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No perigoso flerte com o conflito social de que nos aproximamos, resta a esperança de que a maioria de nós não tenha consciência da violência que apoia e aplaude. Se assim o for, haverá possibilidade de uma saída ainda lastreada na urbanidade, com respeito à liberdade dos indivíduos e à independência das instituições.
Violência ainda mais simbólica que física, mas cujo esgarçamento dos limites vai abalroando a necessária fronteira entre uma e outra. A não ser que a estratégia seja essa mesmo, romper com a civilidade restante para, a que custo, lá na frente, restabelecer uma nova ordem, de outros senhores e restauradas violências.
Ações até agora mais propagadas que perpetradas. É possível perceber, contudo, o aumento tanto no número de efetivos propagadores quanto no de potenciais perpetradores. Assim como é paulatina a elevação no grau das violências enaltecidas, já abertamente, com ampla aceitação e quase nenhum contraponto — que dizer de alerta ou repúdio.
Mais desalentador que o risco de tal desordem não apenas informacional é a segurança de que, enquanto os de cima permanecem a salvo, os de baixo são postos a brigar entre si. Como já acontece. Acintosa falta de honestidade e vergonhosa falta de coragem das lideranças, seja de que lado forem, a repetir que buscam a pacificação e o consenso.
Advém talvez daí o fato de que só o desconforto e o desassossego nos reúnam. Nosso patrimonialismo é conhecido, não diferenciarmos o público do privado não deve (nem deveria) ser novidade para ninguém. Agora, a atual combinação de força política com intenções ocultas — continentais de longo prazo ou localismos de ocasião — parece algo inédito na história recente.
Um dos resultados, se não está no habitual atendimento de interesses econômicos, transparece no pleno desatendimento dos interesses populacionais. O antagonismo que adotamos nos faz crer que, se o outro lado estiver no poder, somente o nosso restará desatendido. Com a fé na desfaçatez, nossos líderes são magnânimos no prejudicar de todos.
Essa é a dimensão de nossa falácia conjunta, pois retroalimentada por ambos os extremos, e que passamos a defender com unhas e dentes. Pelo bem comum, em nome da lei e na defesa da metade certa da democracia, rumo ao Brasil da verdade. Nessa cruzada, não sem estímulo, o ensaio da violência toma conta do palco e se espraia mais e mais pela plateia, toda.
Algo de bastidor
É um beco sem saída argumentativo. Bem, mesmo a palavra “argumento” já parece cansativa, pesada. Ou ela mesma cansada, ao perceber o peso da quase inutilidade do que significa e representa. Época em que só não deve ter ficado confuso quem não se perguntou nada. Como alguém a propósito de capa de jornal recente bem escreveu, “tempo que realiza estéticas a partir de ética relativizada”. A literalidade é tanta que nem sabemos mais reconhecê-la.
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“Integrantes do governo de Jair Bolsonaro disseram ao Bastidor que a ideia da decretação do estado de defesa, conforme previa a minuta do golpe encontrada na casa de Anderson Torres, não foi adiante por rejeição dos comandantes das Forças Armadas.” Nonato Viegas | O Bastidor
“Desconfiança de Lula com Forças Armadas expressa ‘covardia’ e não ‘pacifica o País’, diz Etchegoyen.” | Estadão
“Chefe do GSI no governo Temer, general ataca STF, reclama da imprensa e faz ameaça velada a Lula.” Bernardo Mello Franco | O Globo
“Se um general tem o seu quartel vandalizado numa tarde de domingo, o mínimo que tem a fazer é desconfiar da guarda.” Elio Gaspari | Folha
“Transações financeiras do militar do exército que atuava como ajudante de ordens do ex-presidente foram mapeadas pela Polícia Federal por ordem do STF.” Rodrigo Rangel, Sarah Teófilo | Metrópoles
“Lula teria decidido demitir comandante do Exército após ele se recusar a exonerar o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro de posto em Goiânia.” Igor Gadelha | Metrópoles
“Novo chefe do Exército defendeu ‘respeitar o resultado da urna’ em discurso a tropas.” | Estadão
“Moraes conclui análises e mantém 942 presos pelo 8 de Janeiro. Ministro avaliou processos de 1.406 presos; 464 foram liberados com uso de tornozeleira eletrônica.” | Poder360
“Por que ninguém previu o Capitólio brasileiro? A resposta simples é: porque nem seus perpetradores sabiam.” Letícia Cesarino | CartaCapital
“É espantoso que o novo governo não tenha se preparado para impedir que um distúrbio dessa gravidade acabasse ocorrendo.” Rogério Furquim Werneck | O Globo
“Moraes passa de ‘golpista’ a homenageado por alunos da USP em sete anos.” Malu Gaspar | O Globo
“O primado civilizatório da lei. O atual governo beneficiou-se do arbítrio judicial, mas corre o risco de dele também tornar-se refém.” Reginaldo de Castro | Poder360
“PSDB abre ação contra palavra ‘golpe’ usada em site do governo. Partido argumenta que uso da expressão em referência ao impeachment de Dilma Rousseff ‘fere a Constituição’.” | Poder360
“Cada demonstração de amadorismo de Lula na economia cobrará seu preço. Também na política.” | O Globo
“Tudo considerado, Dilma foi o verdadeiro Lula, com a gastança do governo, suas estatais e seus bancos.” Carlos Alberto Sardenberg | O Globo
“O escritor e jornalista Ruy Castro foi acusado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social de usar expressões de ódio e de incentivo ao ódio contra Donald Trump e Jair Bolsonaro num artigo publicado no Diário de Notícias há dois anos.” Pedro Almeida Vieira | Página Um
“As autorias individuais podem estar sob a liberdade de pensamento e expressão, cabendo outros casos à apreciação judicial. Rádio e TV, no entanto, são concessões públicas. E a difusão que infringe as restrições legais, com a gravidade dos ataques enganosos e anticonstitucionais, leva por lei à perda do canal.” Janio de Freitas | Poder360
“Fotomontagem na capa da Folha é um atentado ao jornalismo.” | ABI
“A imprensa profissional precisa, mais que nunca, se apegar à verdade absoluta.” Ruth de Aquino | O Globo
“Aumentar a realidade é uma ideia tentadora, mas dilata tudo, de intenções editoriais à ambiguidade. Fotojornalismo pode até virar arte, mas nunca dúvida.” José Henrique Mariante | Folha
Do
“Olha, pra mim um ponto é pacífico: jornalismo não é arte. Podemos discutir se a imagem produzida por Biló é fotojornalismo ou não.” Moreno Cruz Osório |
Na série “Sonoras Que Condensam a Vida”
“A cidade é o testemunho do que fracassamos em ser. Deveria ser respeitada como ex-utopia e pós-relíquia, esplendidamente moderna, produto da invenção humana, pois o Pão de Açúcar está ali por acaso, mas Brasília não. Brasília fomos nós.”
Otavio Frias Filho, urgente; meados de 1995, por aí
O Artilheiro Musical
Não pede música, faz
“Palavras de baixo calão.”
Bruno & Denner, Gusttavo Lima; Cavalo de Pau
Last but not least
O chato do Português
“A solução é clara para todos verem. Vocês, nossos representantes globais, têm que nos tributar, os ultrarricos, e têm que começar agora.”
‘Ultrarricos’, em obscuro apelo ao pessoal de Davos; meados de janeiro, por aí